quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sobre o desespero.

O texto de hoje é longo, é meio filosófico e, eu preciso acrescentar: baseado na experiência de vida de uma garota de 18 anos. Então não espere NADA dele além de divagações tolas, as quais eu PRECISO escrever, pra não enlouquecer de tanto pensar nelas...

Estava eu, ontem, voltando do mercado, ouvindo o audiobook “Quando Nietzsche Chorou” quando o narrador, com toda a imponência que só José Wilker tem, disse: “O preço da autoconsciência é o desespero”. Eu dei pause. Fiquei com essa frase martelando a cabeça, a repeti, sem falar, mil vezes. Cheguei em casa, anotei no primeiro papel que encontrei.

“O preço da autoconsciência é o desespero”...

“O preço da autoconsciência é o desespero”...

É fato que muitos dizem que temos de espalhar energias positivas, dizer e pensar coisas boas, não lembrar do que é ruim, e esquecer o que faz mal. Eu concordo, às vezes. Claro que o que é positivo, traz coisas positivas. Mas é certo se esquivar do que é ruim, tentar esquecer, fugir, correr? Lutar contra pensamentos que lhe invadem a mente, sem que você tenha dado permissão? Não acho que deva me privar desses péssimos sentimentos, às vezes eles chegam e simplesmente me derrubam, me tiram o chão e eu caio, sem freios, sem contrapesos, sem direção, sem um rumo definido. Eu não sei para onde me levarão, mas não tento desanuviar minha mente. Não quero me esquecer do que ainda me priva de alguns sorrisos. Não vou enganar a ninguém, muito menos a mim, dizendo que as lembranças do passado, ficam lá. Dizendo frases bonitas e alegres, só para trazer a alegria. Isso seria egoísmo? Seria deixar que os outros saibam que algo me aflige, embora não possa lhes dizer o que é? Não me importo, somente quem se interessa por mim, é que pergunta. E, algumas vezes, até respondo. Não na plenitude, apenas digo o que é permitido aos outros saberem sobre mim. Como posso conversar sobre algo que nem eu mesma decifrei? Não quero incomodar ninguém com os meus problemas, minhas indagações sem resposta alguma, minhas filosofias baratas que só a mim interessam. Não quero prender ninguém.

Posso dizer que a noite é mais propícia para que apareçam os fantasmas. Tenho vários, não me atenho a um problema só. Quando estes tais pensamentos começam a me inundar, se sucedem, vêm todos ao mesmo tempo, mas, organizados... Um por vez. Penso em todos, não fujo. Alguns são realmente doloridos. O que mais machuca é a previsão do arrependimento. Sim, porque ainda não me arrependi... Mas há lembranças que me perseguem, das quais não adianta correr, contra as quais não adianta atirar. Abismos nos quais não me adianta atirar-me, pois seria nesse mesmo abismo o meu encontro, frente a frente, com aqueles medos, as recordações, o arrependimento. A possibilidade de ter sido diferente não me amedronta. Não me arrependo daquilo que não fiz. Por toda a vida procurei tomar minhas decisões para que esta última frase sempre soasse verdadeira ao sair da minha boca. Sempre deu certo!

Há outro medo que me atinge. Esse, sem natureza romântica, apenas um encontro casual, numa peça que o destino quis me pregar. O que me dá medo é a transformação pela qual esse sentimento passou. Foi de “amor platônico” a “amor não correspondido”. Acho que o amor platônico dói menos, porque sempre pensamos na possibilidade. O segundo, não. O segundo fecha as portas e já avisa que não vai mais abri-las. Já diz logo para ir embora. Tente mais tarde. Talvez!

É essa, a autoconsciência. Eu poderia simplesmente não pensar, não quero pensar. Mas é melhor ficar e encarar do que fugir e jamais me encontrar com a dúvida. Eu gosto da dúvida. Ela me deixa apreensiva, me tira o sono, me desespera, me atiça, me desmonta. Mas é benigna. Não pensar nela apenas adiaria uma futura e imprescindível desilusão, da qual não poderia escapar. Não posso escapar de mim, dos meus segredos, dos pensamentos.

E quando eu olho assim, pra mim, mesmo vendo o que não queria enxergar, percebo que me conheço melhor. Por mais que desaprove os sentimentos que me corroem, por mais que eu não queira senti-los, por mais que eu os ache abomináveis, que pense que eles não tenham função alguma além de fazer mal, eu não tenho controle sobre eles, apenas a consciência de que existem. E não queria ter esse controle, não. Não queria que a razão me dominasse, pois assim, as coisas tornar-se-iam sem sal, não teria a emoção de lutar contra mim mesma. Contra os pensamentos, nem luto mais. Já disse, melhor que os tenha, do que que os esconda. Mas... Os sentimentos, esses sim, não merecia tê-los. Não queria controlar, mas também não queria sentir. Essa intensidade com que eu vivo os momentos e sinto as situações, às vezes não passa de um defeito que, por mais que eu tente, é incorrigível. Não posso escolher não amar. Mas posso fingir que nada acontece. Entretanto, alguém vai perceber. Alguém verá as entrelinhas de um sorriso meu. Só espero que esta pessoa seja mais que meu cúmplice, porque aí sim, talvez eu possa me libertar de tudo isso, despejando nos ouvidos de alguém toda a aflição, e, por que não o desespero?

9 comentários:

  1. Querida... eu AMEI seu post! Amei a forma como escreve, e O QUE escreve.
    Me identifiquei muito, muito!!! :)

    O amor platônico realmente é BEM diferente do Não-correspondido.
    E também só digo aos outros o que lhes permito saber sobre mim...

    Parabéns, vou vir aqui sempre!

    Beijo enorme!

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  2. Adorei ver vc filosofando ou como disse vc: " Viajando na maionese". + ta muito bem escrito e interessante de ler. Gostei! ;D

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  3. Carol,
    estou CHO-CA-DA com seu texto. Perfeito no desenrolar do assunto, consistente no conteúdo, exposição na medida certa, inteligente e completo.
    CHO-CA-DA!

    Eu ia enumerar cada pedacinho que me chamou MUITO atenção, mas percebi que usaria o texto praticamente inteiro.

    Amei litros!

    Parabéns!!!

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  4. hum.. mto interessante!Parabéns, Carol!!

    Nada como Nietzsche para ter instigado essa auto-análise que vc fez, e que, além de ser uma reflexão sobre sua individualidade, transcede a esta e pode se identificar com várias outras personalidades.

    De fato, há uma consequência de nossas atitudes que reflete, querendo ou não, na nossa consciência, e pode trazer um sentimento de satisfação ou decepção.

    Como vc disse, há lembranças q nos perseguem e, por isso, não precisamos lutar para afastá-las, mas sim olha-las e ver o q realmente interessa e vale a pena ser guardado! Mesmo as que incomodam merecem ser refletidas, pois é a partir destas q mais evoluimos, uma vez que as dúvidas surgem em nossa mente e elas são o princípio do nosso autoconhecimento!!
    Por isso, tbm concordo q é melhor encarar os pensamentos do q ignora-los!Esconde-los só gerará mais angústia!!

    acho q está bom..já concordei demais com vc ehheuhasuhahusahasa
    :D

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  5. Carolzinha,
    Eu já sabia que estava muito bom...
    E está simplesmente lindo!!!!Bom de ler!
    Bjs

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  6. Carolzinha....

    AMEI seu texto tambem... Me identifiquei em varias partes... mas esse trecho em especial eu AMEIII, eu me identifiquei TOTALMENTE, sem mudar nadinha:

    "Não me importo, somente quem se interessa por mim, é que pergunta. E, algumas vezes, até respondo. Não na plenitude, apenas digo o que é permitido aos outros saberem sobre mim. Como posso conversar sobre algo que nem eu mesma decifrei? Não quero incomodar ninguém com os meus problemas, minhas indagações sem resposta alguma, minhas filosofias baratas que só a mim interessam. Não quero prender ninguém."


    Bom, ja te disse que adoro a forma que escreve né ?! rsrsrs

    Beijao Gemea... ;)

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  7. Carol...

    Eu desde de antes da facul já havia começado a conhecer Friedrich Nietzsche, certa lendo Acerca de um ser humano me deparei com frases como estas.

    “É preciso ter um caos dentro de si para poder dar à luz uma estrela cintilante.”

    “Prefiro uma vida de angústia a uma existência anestesiada.”

    Uma das questões mais controversas refere-se à questão do controle. Controlar a própria vida, controlar os sentimentos, controlar as escolhas dos outros. Mas o que é realmente o controle? O que realmente podemos controlar?

    Carol falar do ser humano enquanto existência é considerá-lo em sua essência mais fundamental, ou seja, é concebê-lo enquanto abertura para que o mundo se dê, singularmente, sempre envolvido de forma afinada com suas emoções.

    É nessa abertura que o homem constrói as suas relações, que significa sua vida. Nessa abertura, que é sempre estar relacionado com – outras pessoas, acontecimentos, objetos – acontecem as escolhas que fazemos ao exercer nossa liberdade. Porém não somos nós que escolhemos tudo o que acontece em nossas vidas.O exemplo claro disso é observar o que você disse está reproduzido aqui abaixo:

    " Não posso escolher não amar. Mas posso fingir que nada acontece."

    Percebeu?

    Me pergunto sempre os motivos q levam o ser humano de querer afirmar conseguir controlar a oscilação inerente ao existir humano . Extremamente desnecessário pensar nesta possibilidade, temos de nos acostumar-mos com o fato de que não podemos viver sem sem surpresas, sem fortes emoções, com tudo sob controle ? impossível para realidade humana.

    Bem sobre "Quando Nietzsche chorou”, eu defino como uma das maiores e melhores afrontas intelectuais no qual me deparei na vida.

    E compreender a genialidade do mestre Nietzsche requer muito exercício.

    Carol naum se atenha tanto aos moldes que a sociedade "racional" tenta nos impor. Prefiro ser vista como Aloka.com do que me parecer com pessoas ditas " normais" que tentam emendar a dissonância de suas vidas na essência do outro!

    Exteriorizar é viver Capricorniana determinada divagações tolas surgiriam se não escrevesse, esteja certa disso. Sendo filosófico ou não escreva sempre!

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  8. By EU MESMA:


    Carolzinha,

    Muito bom o seu texto do blog.
    Denso, né? Repleto de indagações, porém com boas respostas servindo de ganchos para novas colocações... Interessante!
    O seu amadurecimento está vindo a galope, e com ele o seu estilo de escrever. Porém, nunca se deixe levar pelo lugar comum de alguns escritores, que apenas escrevem em cima de conteúdo filosófico ou real, esquecendo ou desprezando a beleza do lirismo e o quanto ele nos conforta a alma em tempos de angústia!

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  9. Ahhhhh Carol eu adoreiii muitooo esse texto
    muitooo profundooo
    e o que eu mas gostei foi

    "Eu gosto da dúvida. Ela me deixa apreensiva, me tira o sono, me desespera, me atiça, me desmonta. Mas é benigna. Não pensar nela apenas adiaria uma futura e imprescindível desilusão, da qual não poderia escapar. Não posso escapar de mim, dos meus segredos, dos pensamentos."

    As vezes eu gosto da duvida, entretantoo é muito facil perder-me nessa duvida, me apavoro com elas, ms é bem verdade que não posso éscapar de mim mesma .. e tenho que lidar com elas:)

    Beijooos, me liga hauhahauhauha ;P

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