segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

É o que sempre muda.


Eu tive medo, e até perguntei demais. Nunca foi meu sonho andar por caminhos desconhecidos, tentando adivinhar quais seriam os próximos passos de alguém. Eu sempre fui inconstante, mas meus planos têm alguma constância, e se os sentimentos vão e vêm, eu sei bem quando a decisão é definitiva. Eu gosto de conhecer o amanhã e, mesmo que eu não espere a sua companhia, você não podia tê-la prometido - porque eu acreditei. Me acostumei a você, à sua voz me acordando, seus dedos enrolando meus cabelos, um beijo de bom dia, não sair da cama até que alguma urgência nos arrancasse de lá... Antes, você não queria fugir. O que mudou é o que sempre muda, você me saber sua.

Me sinto alagada, sem ter por onde escapar. Você me prende, quando me deixa à sua espera, quando me solta, livre. Quando volta, ciúmes. Amor renovado que vislumbra promessas, estas, nem precisam ser ditas. Palavras não se comparam aos motivos que tenho para acreditar. Mesmo assim, você diz. Eu acredito mais uma vez e crio pretensões, mas será que as suas são reais? Quando os devaneios recomeçam, olho para o lado e lá se vai você, mal posso enxergar suas mãos dizendo adeus, e olhos molhados me dizendo para esperar. Mas sei que estão lá, ou quero que estejam... Não importa, sim, estão sim. Você me disse. Ah... Aqui estou eu, voltando às promessas.

Eu não consigo me libertar, porque você ainda se mantém meu mesmo na ausência, seus sonhos entrelaçam-se aos meus quando se encontram, num tempo diferente desse aqui, que não passa de dias que se demoram a passar. Dias estes que ainda não fazem sentido, enquanto não houver sua mão na minha. Quem sabe os segundos se arrastem rumo ao eterno, depois de selados nossos juramentos. Espero suportar essa saudade e ainda sentir suas mãos nos meus cabelos com o sussurro de bom dia, por todas as manhãs, até você voltar.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Essa vai pra um certo alguém.



Até que ponto superar?


Sentei-me na cama, sua foto no painel, me deu vontade de arrancar.
Um livro já terminado em cima da mesa, eu com preguiça de guardar.
Celular desligado, não é para ninguém me ligar.
Uma música no rádio, me esperando pra cantar.
O violão num canto vazio, vazio está o som aqui.
Travesseiros espalhados fazem prova de que eu não consegui dormir.
O computador ligado, a tela em branco olhando para mim.
As palavras jorrando pelos poros, e por que me sinto assim?
O céu ainda está convidativo, dá vontade
De deitar na grama, esquecer da minha idade
Ver os desenhos nas nuvens, apagar toda a cidade
E de olhar a olhar, procurar a verdade.
Acho que preciso de um encontro com a paz
Aquela que se foi com você, pra nunca mais
A pomba voa por aí, e eu vou atrás
Buscar no teu sorriso a calma que só ele me traz.




E a nuvem me sorriu. E você sorriu pra mim.
E então, eu consegui sorrir pra mim.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Momentos

Eu caminhava a passos lentos, distraídos, como quem sabe onde encontrar-se com o destino, mas deixa-o lá, esperando a hora certa. Milk shake numa mão, na outra uma sacola com discos que havia acabado de comprar. Nada melhor do que discos novos para acabar com os velhos sentimentos. Sentia apenas o ar quente no rosto; nos meus ouvidos, Isabella Taviani cantava suavemente - talvez houvesse até uma pitada de resignação na sua voz - que tinha mais o que fazer do que se enganar. Eu sempre fui vista como realista, alguém que não tem medo do futuro simplesmente porque não espera nada dele... Mas isso é apenas uma casca. Um modo de me defender das decepções que eu sei que surgirão. Não me engano para não me arrepender de ter esperado demais. Nada de anormal – as pessoas decepcionam, os sonhos mudam de lugar. De vez em quando, temos que varrer a casa, achar uma foto no canto da gaveta, colocá-la de volta álbum de retratos, sorrir pra ela e lembrar que esta simples lembrança não mais machuca, porque é assim que as coisas são. Todo corte que sangra e dói vira uma cicatriz. Pode demorar demais, ou então pode acontecer de ela simplesmente não ser desejada. Algumas pessoas não conseguem conviver com as marcas do seu passado, simplesmente por considerá-lo todo errado... Mas só porque as coisas deram errado no final, não deve querer dizer que foi tudo um erro... Erros são pela metade. Se fosse tudo um erro, não haveria sorrisos.
O que é mágico na nostalgia é saber que há uma lembrança boa escondida em algum lugar do passado. Ela é um misto de sensações... Sentimentos bons e ruins que se fundem num só: ter existido valeu a pena.
Enfim... Estava lá eu divagando pelas paredes da memória quando percebi que meu olhar acompanhava o carteiro. Ele devia passar por lá todos os dias, e certamente não notava as rosas no gramado da casa onde entregava a correspondência. O meu dia era diferente, era uma promessa de mudança de sons e conseqüentemente de ares, de humor, de pensamentos. Já ele, fazia seus movimentos como se fosse máquina, sem precisar pensar em nada. Ou então pensava na filha, na esposa. Talvez na amante. Talvez no limite do cartão... Quem é que sabe? Tantas pessoas interessantes podem passar por você, mas você não teve tempo de saber. De casa em casa, carta em carta. Cartas contêm segredos. Há coisas que só cartas podem dizer.
Enfim, chegou a vez de uma casa com o portão branco, daqueles vazados, um jardim bonito, sem carro na garagem – deviam estar todos trabalhando, estudando, viajando... E um cachorrinho minúsculo. O som alto me impediu de ouvir o latido, mas meus olhos o captaram. O carteiro simplesmente parou e ficou olhando para o cachorro, imaginando uma forma de enfiar logo a carta na caixa de correio, a pressa devia ser grande, mas não podia arriscar a mordida. Claro que uma mordida de um cachorro daquele porte não era algo que se pudesse temer, mas... Talvez o carteiro quisesse evitar inconvenientes. Dessa vez, ele teve que mudar o gesto robótico que fazia. Com destreza, primeiro abriu a tampinha com uma mão, olhou para o cachorro, esperou que ele pulasse, já tirando a mão. Assim que o cãozinho chegou ao chão, ele jogou a carta lá dentro. Quase não deu tempo!
Quando dei por mim, já estava quase errando meu caminho. Minha boca esboçava um sorriso, sem que eu tivesse percebido... Eu não conseguia entender o porquê de um sorriso depois de um dia tão complicado como o que eu tivera, nem como eu havia mudado minha expressão sem sequer notar... Mas há pequenos momentos, que na verdade não têm significado algum, não remetem a nenhuma boa lembrança, não trazem uma alegria racional; esses momentos têm nome: vida.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Incômodo

Esse frio parece vir de dentro
Nada consegue me aquecer
Tudo me esquece, como se eu fosse lama, e houvesse
Há muito tempo parado de chover.


Meus pedaços já não incomodam mais
Tampouco se fazem ver por quem quiser passar por mim
Minha verdade aguarda ancorada no cais
E, para não atrapalhar seu caminho, é por lá que vou seguir.

sábado, 12 de dezembro de 2009

No meio do vale

Eu repousara o livro na mesinha, com os óculos fechados em cima e, ainda no sofá, buscava em vão pelo sono que se misturava às palavras daquela história. Num meio estado de consciência, meus ouvidos me alertaram que eu precisava levantar... Uma chuva fina caía, quase sem som, mas as janelas da casa, todas abertas, me fizeram deixar pra mais tarde a vã procura pela fuga da realidade.

A passos lentos, despreocupados demais para quem tinha aparelhos eletrônicos perto de cada janela, visitei cômodo por cômodo, fechando os vidros, que impediriam meu contato com o mundo lá fora. Após fechar a última delas, no quarto dos fundos, caminhei de volta à sala. O som da chuva já estava abafado, e me senti presa, sufocada dentro de uma casa vazia, sem saída.

Observei meus pés no tapete. Com a pressa, nem havia percebido o chão frio. Não pensara nos chinelos como minha única proteção, porque eu não queria proteção. Queria um contato real com as coisas. Essa minha mania de estar cercada pelos meus escudos o tempo todo, fechando as janelas para que a chuva não entre, para que ela não me molhe porque eu não quero sentir a realidade, às vezes me cansa. Sinto falta de um toque real. Essa janela entre mim e o mundo está sempre entreaberta, e talvez haja só um vidro fino e meio fosco entre nós. Talvez eu esteja enxergando tudo embaçado. Quem sabe a minha respiração na janela chegue a ser mais quente do que pensava ser meu corpo.

Decidi que já era hora de arriscar me molhar, de perder o medo. Voltei até a primeira janela que havia sido fechada e abri uma fresta, devagar. Primeiro, respirei a terra molhada. Fui aproximando meu rosto e, de repente, ele já estava do lado de fora. O vento sugava meus cabelos e os molhava nas pontas, mas isso já não me importava. Gotas começavam a cair no meu rosto, e quem visse de fora diria que eram lágrimas. E talvez fossem. Lágrimas de regozijo por estar entregue ao mundo e ao que ele quiser fazer de mim... Lágrimas por ter finalmente deixado de temer idéias alheias, deixado que elas me atingissem, permitido que o mundo lá fora me tocasse com as mãos. Já não me escondo numa toca de ilusões, onde sonhos são tudo o que há de bom, e viver neles é o suficiente, para não machucar. Eu quero me machucar, quero doer. Quero aprender a viver nas beiradas, que há topos e vales, que os rios podem ser mais intempestivos que o mar, apesar da aparente calma. Viver sob o movimento das ondas, tão previsíveis que são pode ser cômodo, mas jamais será pleno.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ana (eu), por FY.

Não existe, para Ana, o “estou feliz”. Porque ela despreza ilusões.


... Não havia feito novos amigos, nem pretendia fazê-los. Geralmente parece uma pessoa chata para aqueles que não a conhecem, e até para os que sim. Distante, sempre desligada dos grupos, pouco comunicativa com quem não tem intimidade. Mas capaz de conversar por horas a fio com os poucos amigos e de dançar noites inteiras numa boate.
... Tudo o que desejava era voltar para casa e tentar esquecer o que se passou. Assim é Ana, sofre por antecipação. Acredita demais nas suas conclusões precipitadas e leva tudo muito a sério.
... Ana é assim, depois que o amor passa, ela costuma achar ridículo aquele que amou.
... A geração de Ana é pós-sutiã-queimado, não sabe se defende, ou se quer ganhar jóias. Ficou entre o “Avante, patota” e um cartão com rosas vermelhas. O que na verdade Ana sempre quis é descansar. De certa forma, ela se sente como se houvesse participado de mil passeatas e agora quisesse apenas ser bem tratada, porém, sem abandonar os direitos conquistados. Mas se for preciso escolher entre uma carreira e um casamento, Ana não ficará com nenhum dos dois. E para disfarçar sua total incapacidade para ambas as coisas, se dedica a uma vida universitária. Após graduar-se, Ana irá fazer mestrado, depois doutorado e depois... Depois não consegue enxergar.
... Ana não suporta situações constrangedoras e receia sempre que sua agressividade a leve a tomar atitudes extremas nesses momentos.
... Mas ninguém congela um instante na memória tempo o suficiente para compreendê-lo, de fato. E o fato é que, brincando, Ana avisou a Jaime que não pretendia mais se cansar por nenhum amor. Seus esforços nunca seriam grandes em função do sentimento, pois se acostumara a esquecer aquilo que amava, caso fosse muito custoso se lembrar.
... Desde pequena se dizia escritora. Sabe-se lá de onde tirou esta idéia, mas antes mesmo de aprender a escrever, quando perguntavam a ela sobre os planos do futuro, Ana respondia: poetisa. Com a chegada da puberdade, notou que falar poetisa era cafona e diminuía a grandeza da ação. Passou a se dizer poeta. E escreveu belos poemas até o fim da adolescência. Versos que jorravam toda a sua tristeza. Gastou grande parte desses anos falando em morte, Carontes, Inferno e derivados. São indiscutivelmente bons, estes poemas. Mas nada que qualquer adolescente na situação adequada não pudesse escrever. Depois que amadureceu e decidiu não mais se matar, foi-se embora a inspiração. Deixava, então, de ser uma sofredora diletante para tornar-se uma adulta.
Sendo boa para a arte do ócio, aproveitando com sabedoria o hábito de não fazer nada, Ana sempre gostou de ficar horas deitada, pensando. Este exercício resultou em vários cadernos com anotações. Textos sobre assuntos diversos, que em algum momento deveriam se transformar em livros de ensaios, partes de romances ou qualquer outra obra, enfim, fundada. Mas sempre havia um desvio daquilo que pensava para aquilo que acabava indo para o papel. Ela domina com primor a língua portuguesa, conhece suficientemente bem os estilos literários, mas não consegue ser tão boa na escrita quanto o é nas idéias.
... No caso de Ana, conforme os anos vão passando, tudo o que fez, aos seus olhos, parece ridículo. Quando se lembra das cartas de amor que já escreveu, tem vontade de se jogar do mais alto prédio da cidade. Dos ataques de ciúme, ela comprime a cabeça com as mãos, tentando massacrá-la. Odeia lavar louça, pois este é o momento das piores lembranças. Costuma uivar para tampar a própria memória. Assim como quando se lembra das passagens tristes, aperta um gatilho imaginário no meio da testa.
... Jaime compreendia que Ana não tinha os seus sentimentos em ordem, ao contrário da maioria das pessoas que ele conhecia. Ela é diferente. Ele sabia disso. Entendia seus temores e que ela faria de tudo para se defender dos sofrimentos de um abandono.
... Ela percebeu que seu coração estava endurecendo e, com medo de perder Jaime, passou a tratá-lo como um rei. (...) “é compreensível que, com o tempo, as pessoas deixem de me amar. Eu as afugento. Acho que, primeiro, eu é que não gosto mais delas, e faço essas coisas ruins, grosseiras. Sou uma chata. Perco as pessoas porque quero (...)”.
... Estava chorando por vários motivos e, caso tivesse que dizer um, diria que chorava pela dor da solidão. Como outras vezes, estava acompanhada e sozinha. Prefere estar somente sozinha, pois a solidão ao lado de outra pessoa é, para Ana, mais dolorosa. Seu choro era uma tormenta de lágrimas por tudo aquilo que sempre viveu. Sua tristeza não era só pelo livro, ou por Jaime. O que estava acontecendo com ela era resultado de muitas outras coisas. Era por causa de seu pai, da sua mãe, por causa dos seus sonhos, que escorriam pelos seus dedos feito água. Seus sonhos perdidos, sua falta de esperança, sua falta de fé. Chorava, também, por seu coração, que mais uma vez tornava-se frio, inabitado. Um aposento úmido, vazio, que expulsa qualquer um que ali tente ficar. (...) A caminho da faculdade, Ana deixou de se sentir mal e passou a imaginar a liberdade que seria não ter mais nenhum amor para se preocupar. A manutenção das relações é delicada, requer boa vontade e cuidado. Qualquer casamento está sempre a um passo de entrar em declínio, é necessário um senso de equilíbrio digno de malabaristas. Um tropeção em falso e o amor cai corda bamba abaixo. São palavras que devem ser pensadas, pesadas, medidas. Tratar o outro como uma pilha de cristais finos. Pois o ser humano é um amontoado de traumas. E cada um desses traumas merece atenção e tato, quase um tratamento especial. Daí se faz a intimidade máxima: um conhece os problemas emocionais do outro, muito mais do que suas mães ou os seus analistas jamais conheceram. É, no final das contas, essa sabedoria que sustenta os alicerces de um casamento. Mas mantê-los é tão cansativo que, às vezes, os casais duvidam se aquilo vale a pena. Se não seria melhor viver sozinho, do que ter que estar atento a tudo, o tempo todo. Estar ligado às variações de humor do outro, às faltas de interesse físico, ao desânimo com a própria higiene. Estar acompanhado é um trabalho árduo, disfarçado de aconchego.


A beleza de não esquecer é o instante em que se acredita nisso.


Fernanda Young – Vergonha dos pés.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Tempo

Tempo é vontade. Que passe, que chegue, que fique. Tempo são planos e coisas que já foram, e deram errado. Tempo é saudade. Até do que ainda nem chegou. Tempo é ansiedade, são objetivos, é querer conseguir. Tempo é economizado, e gasto à toa. Tempo a gente nem vê passar, depende a companhia. Tempo é vento, a chuva que decidiu os planos do dia. Tempo é pensar antes, desfazer na hora. É um querer constante, uma busca, talvez uma preocupação. O que me preocupa é que o tempo parece só ter passado e futuro. O tempo parece ser lembranças ou planejamentos. Nada disso. Tempo é agora. O agora que escapa por entre os dedos, ao piscar os olhos, no desviar do olhar. Tempo é a decisão, é o momento. Não sobrou tempo, não deu tempo, o tempo passou e eu não consegui. Tempo passado é o que dá medo de ter sido construído errado. Tempo futuro é a incerteza. O presente fica esquecido. O presente é o que temos agora, mas será que o momento para decidir o que fazer com ele já ficou no passado? Quantas pessoas ficam esperando o futuro chegar para pôr em prática... O tempo é uma criança segurando a mão da mãe, com medo de atravessar a rua. Medo de tomar a decisão. Tempo tem medo do temporal, fica embaixo da mesa. Tempo se esconde, porque se o virem passar, ele ficará preso. Se descobrirem como fazê-lo voltar... Ah, ele estará perdido. Nos dois sentidos. Querer o tempo é perder tempo. É ficar no vazio de um momento que dura quase nada, mas é eterno. Não quero tempo: quero vida. Independente de quanto tempo a vida tome.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Véu


Todos os caminhos são passos
Estão lá os traços
Me querem no chão,
Mesmo que em pedaços
E soltaram minha mão.
Caem as gotas do céu
Como as do rosto corado
Cores por trás de um véu
Olhos sozinhos nublados.
Como um trajeto pré-determinado
Eu sigo por cima das falhas
Na corda-bamba da intuição
Nos buracos esparramados pelo chão
Nas batidas.
Não há explicação
Ninguém queria ver
Destino sem destino, desviado
Virado para o outro lado
Querendo não ser
O asfalto queima
Meu peito em brasas, grita
Quente, canta, triste
Porque não mais existe, mas insiste...
Voltar a não ter, não querer, não sonhar
Voltar pela estrada que já ficou
Uma única mão que me pára
Seduz, acalenta e ampara
Mas depois me deixa só
No meio da encruzilhada
Sem mapa, sem enxergar nada.
Eu sei que ainda tem um desvio
E eu já não estou aqui
Só comigo, eu caminho
Vou tentando me encontrar
Sair de onde me perdi
Chegar, enfim, a mim.


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Elo

Senti sangrar o peito, como o último caco de vidro que sai do machucado. Aquele que fica embaixo da pele e dói tanto, que a gente deixa lá, por medo. Mas o medo corrói e corrompe. Ele fica maior do que é e começa a atingir tudo ao redor. O medo muda até a forma de ver as coisas, muda a nossa percepção. É como se todo mundo quisesse te machucar. Cada pequeno problema em casa, no trabalho, na faculdade, no trânsito, na rua, vai ficando imenso, porque vai juntando. E mudamos a forma de agir também. O receio domina, e não adiantam mais as palavras, a gente passa a sentir necessidade de demonstrações... Mas não é o tempo todo. Não é sempre que dá pra cruzar a ponte.
Eu rompi o elo de algo que me puxava pra trás. Mas, pra enxergar isso, veio primeiro uma explosão. Foi tudo de uma vez, tomou o quintal e eu quis trancar a porta, para que as ondas parassem de chegar. Mas elas vinham, me atingiam da mesma forma. Eu vi que apenas trancar a porta não me protegeria. O que me protege, sou eu mesma. É tentar me saber melhor...
Enquanto isso, algumas provas foram dadas. Lindas provas. Mas eu precisei de um tempo pra botar tudo no lugar. Tentei, aos trancos e barrancos, conservar a parte boa, a única que valia. Já no que diz respeito à parte ruim, fui tomando fôlego. Eu sabia que seria difícil enfrentar.
Mas fui com um discurso pronto, que, na hora, foi todo mudado. Já não servem as frases prontas e certezas postas na mesa, quando há tantas feridas em jogo. Coloquei as cartas, mas virei a mesa. Joguei no chão. Pra quê explicações? Só devo fidelidade à minha consciência. Eu disse o que tinha pra dizer, e já não implicam em nada as alegações de que mentiram pra mim, “não é nada disso”, “eu nunca fiz nada errado”.
Erros todo mundo comete. O meu erro foi ter acreditado. Talvez nem seja um erro, deve servir de aprendizado. Vai servir pra alguma coisa.
Os papéis todos pelo chão, jornais e diários picotados porque não contam mais a vida que é, e sim aquela em que eu acreditava. Recortei o que de bom sobrou ali.
Mas cadê a leveza por ter cumprido o que eu vim pra fazer? Eu descobri que ela não vem de graça, nem rápido, nem fácil. É difícil, tem que procurar. Mas agora sinto que já há mais espaço livre aqui dentro, sem o último caquinho de vidro. Mesmo que eu ainda não consiga olhar para o lado, que eu deixe passar oportunidades, romances, amores... Mesmo que eu me sinta completa, mas faltando um pedaço, que eu não sei explicar se está em mim ou em outro alguém... Mesmo que eu só toque a brisa leve com as mãos, é o início do verão, de qualquer forma!


domingo, 22 de novembro de 2009

Caixinha

Procurei na caixinha de lembranças uma forma de me encontrar. A luz da lua entrava por uma fresta fina da cortina, que eu não gosto de fechar toda – a isso, dou o nome de possibilidade. Resolvi me levantar porque minha cabeça não encontrava uma posição confortável no travesseiro. O problema não era no travesseiro. O problema era que ela não queria se desligar. Sentada na cama, uma camisola leve me cobrindo e eu recostada na parede, sentindo o frio que vinha dela. A madrugada chegando e meu corpo, cansado, não queria dormir. Confusões mentais me deixavam agitada e eu podia me virar para todos os lados, mas não encontraria respostas. Sentada estava, então, com a caixinha de memórias no colo. Ao lado, o violão surrado, cansado de me afagar com o seu som, me espiava mudo. O frio que percorria minha espinha era insistente, nem sei mais se vinha da parede ou de dentro de mim. Era doce o meu reflexo no espelho. Mas não me refletia. Era um rosto apático, mas calmo. Era uma alma leve. Com meus pés descalços, caminhei até a minha imagem. Toquei. Mas foi um toque sem sentido, porque eu não me senti. Era mais uma superfície fria tentando me roubar de mim.

Olhei-me nos olhos, já que há muito não olhava nos olhos de ninguém. Não havia brilho ali, parecia que ele tinha sido roubado pelas tardes que ficaram vazias depois dessa ausência que me foi imposta. As tardes costumavam ter brilho. Meu olhar caiu até se perder dentro de mim, dos meus sentidos, dos pensamentos que não se deixavam esvaziar. Voltei a passos lentos até a cama, peguei o lençol que eu negligentemente havia deixado cair, porque simplesmente não me importava o calor que ele podia me trazer. Seria um calor irreal, que não me aqueceria. O calor de que eu precisava estava além do que algo material poderia oferecer...


De volta à caixinha de memórias, uma flor seca. Foi colhida entre sorrisos e abraços, entregue com uma jura eterna de amor, colocada nos meus cabelos com tanto carinho e ternura que seria um crime retirá-la de lá. Mas o tempo retirou e se encarregou de arrancar junto sua cor rosada, transformando-a num amarelado morto, meio bege, acinzentado. Cinza é a cor do estático. Mordi meus lábios numa forma de conter as lágrimas. Com as mãos pressionei minha boca, para que não se abrisse num grito infundado: era madrugada. E era esse o único motivo para que eu contivesse essa vontade imensa de jogar pra fora o que já não me cabia. Contentei-me em calar o berro, porque não faria a menor diferença... Já acumulei tanta coisa que explodir é apenas uma conseqüência – inútil – de toda essa dor. É inútil porque não bastaria uma explosão só. Mesmo que eu me partisse em mil pedaços, cada um ainda passaria um bom tempo sangrando.

Na caixinha de memórias tinha uma foto rasgada no meio do ódio. Colada com durex. Tornei a rasgá-la. Infelizmente, rasgar as fotos não muda o passado. Se eu pudesse simplesmente excluir aquela pessoa de um momento feliz... Que o momento durasse, mas que eu pudesse expulsar sua presença, tão torpe era ela. Não pude alterar o passado, sobrou-me apenas uma foto rasgada, com todas as correntes invisíveis que ficaram gravadas nela; todos os tons de azul do céu que anunciava um banho de chuva; com o romantismo de dividir um guarda-chuva e se molhar do mesmo jeito; com a lagoa ao fundo e os risos que ela ouviu – risos que, agora, eram mudos. Com a presença morta de alguém já ausente.


Na caixinha que guarda tantas recordações, eu procurava apenas um motivo que justificasse tanto tempo. Sinto que perdi os motivos. Sinto que nunca soube ao certo guardar aquilo que era duradouro. Aquilo que continha o segredo de fazer durar. Sinto que me enganei demais, que via apesar de não querer ver, que apreciava a entrega, mas será que a entrega é eternamente verdadeira?

Acho melhor colar de novo a foto, porque nela, tudo aquilo era verdade. Era a minha verdade, ao menos. Vou fechar a caixa, mas não sem antes pegar de volta a minha felicidade que estava presa lá dentro. Se hoje eu vejo que nada valeu a pena, vou guardar só a alegria sincera. Vou pegar de volta a minha essência, aquilo que eu era antes de me envolver em mentiras erradas. Eu sei que aquela menina ainda está ali, e ela é minha, só minha. Pertencem a mim aqueles sorrisos e não me importam os motivos, porque eu vou inventar novos. Que fiquem os pedaços rasgados de passado pelo chão: estes não me interessam mais. Se os antigos conceitos só se prestam a arrependimentos, ainda há tempo para alterá-los. Minha vida é um ir e vir de opiniões. Trocas de opiniões. Passado e presente que se cruzam para construir da melhor forma possível as hipóteses de futuro.


Só quero voltar a me reconhecer no espelho.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Post nº 100

Algumas coisas que eu aprendi.


Aprendi que eu não me encaixo em moldes, não sigo modelos e odeio tendências.
Aprendi que andar olhando para o céu é melhor que andar olhando para o chão. Porque é lá, com as nuvens, que eu posso desenhar e ver o que eu quiser.
Aprendi que se eu me esforçar o suficiente, dá pra ouvir o barulho dos pássaros em qualquer lugar que eu esteja.
Aprendi que muitas vezes eu vou olhar para trás e não vou me entender. Às vezes eu não me reconheço nas fotos do passado. Às vezes meu sorriso muda.
Aprendi que fazer besteiras todo mundo faz. O que difere os sábios dos tolos é que aqueles têm a capacidade de aprender com os erros, enquanto estes sempre se tornam vítimas de si mesmos.
Aprendi a tirar o maior proveito possível dos instantes de prazer. E o prazer pode estar em coisas mais simples do que se imagina.
Aprendi que o maior sentimento de “dever cumprido” é, no final do ano, fechar um livro de 800 páginas e pensar: eu sei tudo o que tem aqui.
Aprendi que, por mais que eu queira superar meus limites, nada me faz correr mais – no bosque – do que trovoadas e um céu ficando azul escuro. (haha, no meio de tanta coisa séria, eis aí um fato cômico e trágico)
Aprendi que sair pra dançar, gritar, cantar e curtir com as amigas é bem melhor do que passar a noite com um cara qualquer.
Aprendi que, por vezes, as pessoas ao meu redor vão se envolver em teias e não vai ser culpa delas quando eu resolver não querer mais. Pessoas envolvidas em teias vêem tudo nublado.
Aprendi que eu posso querer uma coisa, bater a cabeça, sonhar, morrer por ela. Mas que, se eu não conseguir, é porque foi melhor assim. Agora, eu vejo.
Aprendi que uma vitória não chega sem muito suor. E, se chegar, não vale nada.
Aprendi que eu preciso olhar para o lado e estar cercada de amigos, mas que não adianta buscar na plenitude dos outros algo que encha o vazio que há em mim.
Aprendi que me afogar em mim faz bem.
Aprendi que acordar às quatro da manhã com inspiração é a melhor coisa que existe.
Aprendi que não devo voltar a dormir. Escrever folhas e folhas corridas, perder o sono, olhar o mundo lá fora, chegar a um conhecimento tal de mim mesma que dormir já se torna desnecessário... Tudo isso é uma dádiva que eu preciso saber usar.
Aprendi que dar a outra face não é o meu forte, mas que por um amigo eu passo por cima, e dou.
Aprendi que conversar comigo não é loucura. Loucura é me deixar perder nesse mar de indagações sem respostas. Se eu puder me responder, valeu a pena.
Aprendi que construir e desconstruir faz parte da vida. E que matar um sentimento dói, mas cura.
Aprendi que acreditar nas pessoas pode te levar ao céu ou ao inferno... Mas que vale a pena acreditar mais uma vez, tentar de novo. Não dá pra perder a fé na humanidade. Alguém, algum dia, vai dizer a verdade. E quanto ao resto? Quem me enganou? Não sinto mágoas nem angústias, porque eu dou sinceridade sem esperar sinceridade em troca.
Aprendi que não bastam as convenções, o que vale é o caráter. Ninguém demonstra ser o que realmente é.
Aprendi que a minha personalidade forte desagrada muita gente, mas que eu não sei atuar o tempo todo... Portanto, dou a opção de escolha. Quem escolher ser meu amigo pode esperar de mim tudo o que vem de alguém com caráter: lealdade, cumplicidade, segredos bem guardados, conselhos e esporros quando necessário. Mas isso tudo vem com uma inconstância incrível, uns momentos em que me interno dentro de mim e ninguém tira, sensibilidade à flor da pele, risos e choros no mesmo dia. Eu sou assim, “minha inconstância sorri”, construo todos os dias minhas verdades e sonhos e conquisto a vida, porque ela merece ser mais que sóis que nascem e se põem.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Batalha




Conforto e Confronto.

São as mesmas letras, palavras com sentidos opostos.

Opostos? Nem tanto.

Por que é que o confronto não poderia muito bem causar conforto?

Porque explicar as coisas de outra forma, uma contrária, a faz sofrer.

E se o sofrimento faz evoluir

E a evolução traz conforto?

Conforto não se reduz a um abraço

A palavra que precisa ser dita

Àquilo que ela queria escutar...

Se conforto for assim, superficial

Se alguém que aparece, assim, consegue trazê-lo

Sem mais, sem porque...

Se isso a faz feliz, que seja feliz.

Mantenha ao seu redor todas essas pessoas:

Quem faz mal e bem e mal...

Fazendo bem de novo, confortou.

Mas idéias ficaram sem confronto!

Que descansem as forças de batalha

Já que o cérebro não quer pensar, deixa o coração entender

Ele entende, mas passa

E a dor volta.

Sem confronto, a dor volta...

Fica o “perdão” não merecido

Por não ser contradito, apesar de tão contraditório.

domingo, 15 de novembro de 2009

Corredores

É o nome do meu blog. Foi escolhido por retratar os corredores da minha alma, que vocês podem visitar, se quiserem. Tá, isso ficou emo... Enfim, eu não podia deixar de colocar aqui o  vídeo da estréia do show N9VE da Ana, em que ela cantou pela primeira vez Corredores ao vivo, e ficou LINDO.



Eu andei, sorri, chorei tanto. Não me arrependi, ganhei e perdi, fiz como pude... Lutei contra o amor, quanto mais vencia me achava um perdedor... Mais tarde me enganei e vi com outros olhos quando às vezes não amei a mim não por falta de amor, mas amor demais me levando pra alguém. Quem? Visitou os corredores da minha alma soube dos enganos, secretos planos e até os traumas, eu sempre fui muito só. (é, ela erra aí nessa parte). ... Eu andei, sorri, chorei, tanto. Fui quase feliz, fiz tudo o que quis, fiz como pude. Desprezei meu ego, dando esmolas a ele como se fosse um cego. Mais tarde me enfeitei, e até pintei os olhos... Quando às vezes não amei a mim, não por falta de amor, mas amor demais, me escapando pra alguém... Quem? Visitou os corredores da minha alma soube dos meus erros e dos nós que fiz, bem na linha da vida... Eu sempre fui muito só.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Rio

"E deixo pra depois o que eu tinha que fazer, o destino aceito sem dizer sim ou dizer não, sem entender...♪"




Eu quis correr até ser capaz de me encontrar no seu olhar, quis enfrentar os seus perigos, sobrevoar seus precipícios, me perder no seu abismo, ser sua. Eu quis que, ao menos naquele dia, não houvesse nuvens no céu. Que a sua sedução não corresse até mim como a água no rio, que leva tudo de bom e de ruim, mas sabe fazer qualquer barquinho, como o meu, naufragar. Eu poderia ter perdido a vela, perdido o caminho, a bússola, o cruzeiro, o meu rumo, mas jamais poderia perder o seu rumo. E perdi. Esqueci, por um momento só, que as pedras do caminho estão para ser chutadas e não para me impedirem de chegar. Demorei até perceber. Percebi tarde demais, seu olhar já não me chamava... Não me adiantaria correr, só chegaria a tempo de ver suas costas que, me vendo chegar, me avisavam da tua partida. E não fui. Não quis tentar gritar, eu sabia que não arrancaria uma virada tua. Sabia que não voltarias o olhar para o meu. Esperei que o trem partisse sem sequer sentir um aceno seu. Não o procurei, posto que não o encontraria. Decidi que não mais correria. Parei para olhar o rio, o seu rio, aquele que eu te dei. Aquele que enfeitou nossas tardes e deixava a aurora mais bonita... Aquele que me despertava mais cedo para que eu visse o seu sorriso. Este, ele não mais veria. Nossa imagem, não mais refletiria. Mas continuaria a correr e a levar as flores que jogamos. Que venham mais flores até mim, que as nossas nadem até outro amor qualquer, que a correnteza te leve daqui.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Teste

Atoron fazer teste quando não tenho mais o que fazer. ;)

Resultado: 40 pontos

Os outros te vêem como alguém sensível, cauteloso, prático e cuidadoso. Te vêem como inteligente, talentoso, mas modesto. Não uma pessoa que faz amigos muito rápido e fácil, mas alguém extremamente leal aos amigos que você faz e que espera a mesma lealdade deles. Aqueles que realmente te conhecem percebem que é difícil abalar sua confiança em amigos, mas também leva um bom tempo para recuperá-la se esta confiança se acaba.

Teste de Personalidade

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Espelho

Mais de mil visitas a esse blog em mais ou menos dois meses. Então é assim, tenho leitores? HAHAHA
Ou então uma galera passa o dia dando F5 aqui kkkkk


Enfim.


Hoje eu não quero falar. Acho que estou querendo escutar.
Então pra quê ter um blog???
Justamente. Acho que o motivo está na primeira linha ali em cima. =\

Então já que eu não quero falar e preciso escrever, vamos ver... Vou escrever sobre estar na cama ouvindo a chuva neste momento? Não, já cansei de falar disso...
Eu poderia escrever sobre o meu "choque com a realidade" e minha onda "saudável". Mas não adiantaria, porque isso são coisas que a própria pessoa precisa decidir e não adianta ninguém dizer. Me deu um click, eu resolvi e fiz. Não foi porque ninguém disse. Aliás, vocês já devem saber que eu adoro nadar contra a corrente "só pra exercitar..."
Exercitar o quê? Auto-confiança, senso crítico, responsabilidade, formar minhas opiniões, transmiti-las aos outros. Dialética, retórica. Perguntas e respostas. Saber responder é menos importante do que saber perguntar. Conseguir entrar num confronto de intelectos... É, é importante pra mim, e eu tenho sentido falta...

Mas tá, sem "nerdice" por hoje.

Estou cansada...


Outro dia eu abri o freezer pra pegar a minha garrafinha de água e ir correr - #ondasaudável - e me veio uma coisa à cabeça: Não me faltam possíveis parceiros. Faltam-me motivos.
"Ainda não estou pronta pra viver um novo amor".
É difícil para as pessoas aceitarem.
Outro dia me chamaram pra um churrasco. Vão as meninas e os namorados. O meu também estaria convidado, se eu tivesse um. Não pude conter esse pensamento, apesar de ninguém ter dito. Porque o normal é namorar. Por que o normal é o amparo de uma pessoa na outra? Será que se o relacionamento não fosse visto muitas vezes como "chão" haveria tantos casais suportando tantas coisas simplesmente em troca da presença do outro?

Quarta-feira eu olhei pela janela, havia um homem discutindo com a namorada. Ele a encostou na parede, então não pude ver mais nada... Mas ouvi socos, gritos, chutes e ele finalizou a brutalidade toda jogando um capacete na menina... Vi o capacete quebrado no chão. Vi o cara saindo. A menina ficou lá. Havia gente na rua, devem ter ido ajudar... Talvez. Eu não quis ver o final... E sabe por quê? Porque eu duvido que essa pessoa foi à delegacia registrar uma "notitio criminis" (é, registrar B.O., mas é que meu prof de penal me proibiu de usar essa expressão... Preciso falar em latim, olha só ¬¬). Provavelmente ela voltou pra casa, correu pro banheiro, encheu a cara de base e pó para que ninguém visse o roxo e continuou o relacionamento. Por quê? Porque o imbecil machista dá a ela o que o pai nunca deu? Talvez... Faltou a figura protetora, ou ela foi embora, ou ela não quis mais. E ficou a necessidade, o vazio. Preencheu. Melhor ficar sem nada...
Melhor saber que o nosso espelho só precisa conter a nossa imagem e de mais ninguém.
O meu espelho me basta.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Janela



Eu nunca temi estradas
Nunca fugi do escuro
Olhei pelas janelas
Perdi o meu escudo

Vi tantos desvarios
Cometidos pela madrugada
Poucas luzes iluminando
Passos felinos pela calçada

Procurei a lua pelo céu
Aquela que há pouco me havia feito sorrir
Num sorriso incontido,
Me senti existir

Mas ela já não estava mais lá
Há quanto tempo havia mudado de lugar?
Passei a noite toda na janela
Mas nem vi a noite passar

Sobraram as estrelas
Sempre fazem companhia
Havia aquela que você me deu
Aquela que sempre me guia

Voltei pra cama, angustiada
Meus pensamentos não me deixaram voltar
Voaram alto, pra bem longe
Perto de onde não deveriam estar

Juntaram-se à nossa estrela
Te enxergaram em algum lugar
Então o sono veio
Permitiu-me te encontrar


Escrevi numa madrugada dessas de insônia. É verdade que a lua sumiu, durante o tempo que eu passei olhando... Quanto tempo será que foi? Não vi, nem quis ver...
Nesses momentos em que eu me encontro comigo, sinto uma coisa inexplicável. Algo que não dá pra dizer, não dá pra contar. São segundos eternos que eu filmo e guardo. Mas é tudo imaterial. É tudo sublime. Chega a ser surreal...

Eu gosto do meu silêncio, meu tempo, meu sentimento. Eu gosto de organizar as idéias. Eu gosto de parar, me ver.

domingo, 1 de novembro de 2009

November

“’Cause nothing lasts forever, and we both know hearts can change, and it’s hard to hold a candle in the cold November rain....”






É, já chegou novembro. Não vou começar com aquelas histórias de que a gente fica contando o tempo, esperando que passe logo, ao invés de aproveitar os segundos de vida. Não vou porque é simplesmente clichê demais, e pura mentira. Todo mundo acorda na segunda querendo que chegue logo a sexta.



Mas acho que a gente pode olhar pra essa “espera” por outro lado... Sem correlacioná-la exatamente com a espera de um dia após o outro, mas uma espera que é inerente ao ser humano, intrínseca às relações. São duas situações:

Primeiro: A gente “sempre” espera que os outros tomem as atitudes.

Segundo: A gente “sempre” espera encontrar em alguém a felicidade.



“Sempre” entre aspas só para não generalizar. ^^

Sobre o primeiro, não vou me alongar muito, porque eu sei que a maioria é assim, mas eu não sou. Eu sou daquelas decididas, que vêem algo errado e tomam atitudes.

Durante essa semana, houve um episódio lamentável. Eu faço Direito, pra quem não sabe, e meu professor simplesmente rescindiu um contrato verbal que tinha feito com a sala. Bom, pra explicar, acontece o seguinte: 130 pessoas fizeram a prova substitutiva dele, 90% não recuperou a nota e ele diz que pretende reprovar 50% dessas pessoas. 5 pessoas, dentre as 4 turmas de segundo ano, já passaram (eu sou uma delas), enquanto o resto ta quase morrendo afogado. O que ocorreu foi que ele passou um trabalho há dois meses, o qual eu já fiz, porque não deixo as coisas pra última hora, e essa semana ele simplesmente revogou o trabalho - não quer mais. Por volta de cinco pessoas já haviam feito, mas simplesmente disseram “tudo bem” ao ouvirem a decisão. Investigando, descobri que três das pessoas que passaram foram responsáveis por isso, porque pediram para que o professor “esquecesse” do trabalho e ele simplesmente concordou. Eu passei horas argumentando, e ele sem contra-argumentos. Adiantou alguma coisa? Não, diante de uma sala passiva de futuros advogados, eu fiquei sozinha. Sim, nossa juventude não é mais a mesma. Ninguém luta por nada. Começa na faculdade, com atitudes arbitrárias que são simplesmente aceitas. Acaba no senado com roubos estrondosos aos cofres públicos. Passividade é o nome, é a (falta de) atitude, é o vírus do século 21. Nunca mais veremos Zuzu Angels por aí, pra contar a história. Acho ótimo. ¬¬



Agora, quanto ao segundo ponto... Esperar até encontrar a felicidade em alguém. Outro dia eu conversava com um amigo – amigo não, colega – que tem a mania de estar sempre namorando. Ele disse que não sabe ficar sozinho. Eu entendo, já fui assim.

O que eu podia fazer era pedir para que ele não levasse tão a sério a voz do Tom quando diz que é impossível ser feliz sozinho. Ele estava irredutível, disse “precisar” de alguém. Ah, meu Deus. Ninguém “precisa” de ninguém... Pessoas vão e vêm. Pode parecer, na hora, que elas são imprescindíveis, mas assim que elas disserem adeus – e, vá por mim, muitas das pessoas que você conhece hoje, te dirão adeus – você perceberá que há vida após um último tchau.

Se falta maturidade, eu não sei... Ele já viveu tantas coisas, absolutamente muito mais que eu. Acho que o problema está na forma de enxergá-las. Comecei a tentar convencê-lo de que a felicidade não estava nos outros. Não é uma namorada que vai te fazer feliz, não procure isso nela... Um namoro, pra ele, é simplesmente uma válvula de escape e a segurança. Ele vê nesses relacionamentos um chão pra pisar. E quando eles acabam? Acaba-se o chão? Não, não dá tempo, ele logo o procura em outro alguém. Será que encontra mesmo o chão? Eu acho que é só uma ilusão. Você segura a mão de alguém e parece que está a salvo. Se você tem medo do escuro, acende a luz.

Isso são soluções paliativas. Enquanto o medo não for encarado como deve ser, nenhum remédio vai funcionar. Enquanto procurarmos o remédio nos lugares errados, não seremos curados... E o mal do século é a solidão? Às vezes é ela a melhor companhia. Não se engane, quem te faz sorrir nem sempre vai ser aquele que jamais fará com que lágrimas caiam do seu rosto. Tente não confiar demais em ninguém, não se espelhar demais, não crer demais. “Suspenda a descrença se quiser prazer”, já diz Martha Medeiros, mas... Ok, suspendamos a descrença por alguns momentos apenas. Logo em seguida, ela tem que voltar! Não me impeço de sonhar, apenas quero manter os pés no chão para não cair. A cabeça pode ir aonde quiser, viajar, supor, imaginar, fantasiar. Loucuras fazem parte do ser humano. Acreditar nelas é que é o problema. Não que eu sempre esteja me enganando quando sonho, mas eu preciso saber que há uma grande diferença entre o que foi imaginado e o que vai acontecer. Imaginar as coisas de uma forma diferente pode ser uma válvula de escape, mas nunca, NUNCA perca o controle dela. Abra só até onde você ainda enxergar uma frestinha da realidade e, se sentir que está fugindo demais, feche de novo. A vida é assim, sonhos às vezes se tornam reais e a realidade às vezes vira pesadelo... Vamos balancear tudo isso e traçar o caminho no chão de verdade.


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Farpas

Sentada no sofá, o fichário de um lado, o copo de coca do outro, nas mãos o Vade Mecum. Estudava Direito Empresarial, quando cheguei a uma página do código que estava cortadinha, em cima, no meio. Um centímetro. Foi o suficiente. Comecei a me lembrar...


Era início do ano, ele estava de férias ainda, mas eu não. Eu estava deitada num colchão na sala, junto com ele, com dor no corpo, vendo TV. E era assim. Costumávamos passar a tarde ali, absortos na nossa própria insignificância. Como todas as tardes, abraçados, conversando sobre nada. Não posso dizer que era ruim. Não posso negar que o amei, principalmente nesses momentos de pura doação.

Já era quase hora de ele ir embora, era cedo, mas ele tinha que ir... Era tudo tão difícil naquele tempo. Tocou o interfone, chegou o código. Ele me pediu pra ter calma, mas fui logo pegando a faca e abrindo a caixa... Mas a faca acabou pegando no código e aí está a explicação: cortou um centímetro de uma página lá no meio. Oito meses depois, eis aí a página cortada fazendo com que se passe um filme na minha cabeça... Um filme com detalhes, cheiros e cores. Algo que está no passado e não precisa emergir de lá... Posso reviver esses momentos sozinha, deitada naquele mesmo sofá onde tantos momentos passei com ele, e fica melhor assim. Meus olhos miravam o longe, longe demais. Chacoalhei a cabeça, fechei os olhos, mudei o pensamento. Voltei a me concentrar nos artigos... Decidi que era duro demais, então peguei uma barra de chocolate, dizem que alegra. Não me alegrei. Comi compulsivamente enquanto tentava aprender alguma coisa, mas minha mente não sossegava, não me deixava em paz, não me permitia tirar esses pensamentos daqui... A serotonina não surtiu efeito, a paz não voltou, e aqui estou eu escrevendo algo que jamais pensei que seria capaz de escrever. Eu nunca havia me permitido sentir saudades. Eu nunca vou admitir que essas lembranças, que não me doem, não me trazem arrependimentos, não me fazem chorar, são como farpas que eu tirei todas de uma vez do peito, e, de vez em quando, a ferida sangra.

Não me escorre lágrima nenhuma, como deveria acontecer. São só “imagens da minha história”. História é passado, o que já foi, o que não volta. Não quero que volte, só quero ter a calma e a sabedoria para simplesmente me lembrar, e não sofrer com isso. Ainda vai chegar o dia em que conseguirei passar por aqueles caminhos sem que meu coração fique pequeno, sem que meus olhos vejam o que já não está lá, sem que minhas mãos queiram segurar mãos que já não me pertencem, sem que a brisa me faça lembrar que o tempo passa rápido demais, que há sentimentos efêmeros, que pessoas vão e vêm e poucas são as que ficam. Preciso apenas saber que, se aconteceu, valeu a pena.


domingo, 25 de outubro de 2009

Há descaminhos em meus passos...

O ser humano sempre surpreende. Ele inventou o amor, mas também aprendeu a machucar. Superou o orgulho e consegue se doar, mas o egoísmo ainda está lá. Suaves como pétalas de rosas são os movimentos que o homem sabe fazer, mexer as peças como num tabuleiro e brincar com a vida. Não só com a sua.


Alguém conseguiu manipular, armar um circo, comprar palhaços e deixá-los parados na estante. Como se relacionamentos fossem jogos. Como se o sentimento conseguisse entrar e sair de um coração, quando ele quiser.

Armaram um circo e se esqueceram de me avisar que eu não devia acreditar. Disseram palavras bonitas e esperaram respostas, que foram sinceras, não deveriam ter sido... Não deveriam ser verdade, mas foram, e são.

Perdi noites de sono tentando encaixar, tentando me encaixar. As peças não serviram direito, então devem ser jogadas fora. Ficaremos com o que sobra, com o que é bom. Descartar o resto. Esquecer os sorrisos. Jogando com os pensamentos, alguém conseguiu atingir o objetivo. Alguém fingiu estender a mão. Alguém a aceitou. Perceber que era mentira pra quê? Era melhor acreditar. A realidade não é palpável, não é honesta e nem é desejada. É uma ferida aberta. Não queremos cicatrizes, queremos?

Vou deixar que sangre até que o sangue se acabe. Até que o meu amor me convença de que isso está errado. Até que eu consiga sair do navio náufrago, sem querer me afogar, me debato e afundo. Eu não quero sair. Vou afundar em mim e esperar que a lona do circo derreta sob os faróis da ilusão, que iluminam tudo e tão pouco, que traçam o caminho, mas não seguram as minhas mãos. Fiquei sozinha na estrada, sem a luz dos faróis, sem seus olhos e sem sua verdade.

O trajeto está traçado e meu destino, eu quem faço. Adeus.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Motivos.


Essa semana eu recebi um recado no orkut daqueles que eu precisava ter recebido, sabe? Daqueles que a pessoa que te mandou te conhece TANTO, que ela te decifra naqueles versos que ela mandou. Pois é, recebi esse recado e ele dizia, entre outras coisas: "O que está no seu passado, tem motivos para não estar no seu presente".
É verdade, a gente quase nunca se lembra.

No começo, quando estamos descobrindo o amor, cometendo todos aqueles erros imperdoáveis e ainda achamos que o nosso mundo pode se resumir a alguém, temos essa mania de ficar revivendo os momentos bons, quando está tudo péssimo. É, depois daquela briga, você bate a porta do quarto, deita na cama e escuta a "música de vocês". Caem algumas lágrimas pela dor da discussão, das palavras ditas que mereciam permanecer mudas, do vão que se abre entre você e o mundo. Mas, logo em seguida, o que é que se passa na sua cabeça? Os beijos, abraços, as declarações de amor, as flores, aquelas que você guardou no caderno. Pronto, abre-se o caderno. Lá há os poemas, as cartas, as músicas, as flores amareladas pelo tempo... As lembranças também mudam de cor.

Mas e quando o relacionamento acaba? O que está no passado tem motivos pra estar lá, lembre-se. "E mesmo ausente é doce sua falta". O que isso quer dizer? "A saudade é doce".
O que EU quero dizer é que o fim pode não ser salgado. Mas ficar relembrando as coisas de uma forma bonita, só pra fazer parar a dor, não funciona. A dor aumenta. Não adianta florear o passado e perfumá-lo para que ele se apresente mais bonito. O que se precisa ter em mente é que houve momentos lindos, claro. Mas não que eles façam falta... Eles simplesmente pertencem a um tempo que não é mais o presente e nem o futuro. Estão guardados, não podem ser jogados fora. Mas não se pode esquecer de que, se eles estão lá no passado, distante, é porque precisam estar. Sem perfumar as tristezas, a gente vive melhor. Sabendo que elas ficaram pra trás, também... É doce essa ausência, porque nem é mais ausência. É uma saudade mansinha, tranquila, sossegada. É um passado suave com todos os seus erros e acertos, boas e más recordações, sorrisos e lágrimas. Lembrem-se das lágrimas também, quando sentirem o impulso de querer que o passado volte... Mas quando estiverem plenos, permitam-se sorrir ao sabor daquelas lembranças.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sempre que estou indo, volto atrás.


Eu sempre digo que dessa vez não será assim, mas fica sendo. Sabe aquelas promessas que você faz pra você mesmo e não conta pra ninguém? Mesmo porque são ridículas demais para deixar que os outros saibam, e então você fica com vergonha de você quando não consegue controlar. É, eu tenho vergonha de ficar triste assim.
Eu queria ter aqui uma floresta. É, podia ser aquela com o coração na árvore, ou então aquela com o pinguinho na folha. Não importa, tinha que ser uma floresta daquelas em que você se perde. Uma com uma casinha no final do caminho, com vários esconderijos, com tesouro enterrado. Eu me lembro de quando eu ia enterrar aquela fita, aquela foto, aquele anel. Acabei enterrando os abraços, ao invés.
É engraçado fazer piada com os próprios erros. Se achar uma idiota e, algumas semanas depois, fazer, de novo, a mesma coisa. É engraçado não conseguir desistir de quem já desistiu de você.
Mas, sem falar de abandonos, não é? Vamos voltar à floresta. Floresta é bom porque você pode gritar. É, gritar é bom.
Hoje eu quase gritei, mas os gritos saíram pelos olhos...
Fazia tempo que eu não chorava ouvindo Carvão, mas na parte do "me deixe aqui e solte a minha mão", caiu uma lágrima. Essa frase mistura um pesar com resignação e vontade. É, vontade. Me deixa! Me deixa aqui! Aqui é melhor sem você. Sim, é melhor. Solte a minha mão? Eu não queria... Esse vão... Esse vazio... Esse frio sem o calor dos teus dedos, sem seu toque no meu corpo, sem aquele nó. É, solte a minha mão, vai.

O céu nublado de hoje me faz pensar... O tempo fecha e chove. É, aqui chove. Melhor que chova do que guardar tudo isso aqui... Deixa sair, deixa cair, deixa surgir...
Eu não vou fugir, não vou renunciar a essas sensações, mas é que... Me dá uma coisa.
E quando eu estiver de novo desistindo, volto atrás. É, eu volto, porque algo me puxa... Puxa, mas devolve, não quer. Fui devolvida, de novo.


Mas então vai, inventa uma desculpa qualquer, me chama de volta, que eu volto. Eu corro em direção ao abismo e me afogo, e eu vou emergir de novo, não se preocupe. Estarei pronta pra quando você aparecer. Se os teus olhos vão se molhar por mim, minhas mãos vão secá-los. Fica tudo bem, e você volta a errar, e eu volto a ter essa vontade de correr pela floresta até a casinha e ficar, descansar, fugir de você. Vou pra lá, fique aí. Daqui a pouco, grite meu nome. Ou eu que vou querer escutar? De novo? Eu vou escutar, de novo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Entre a aurora e o crepúsculo

Entre a aurora e o crepúsculo

Entre o seu e o meu mundo

Entre os sonhos e os desencontros

Entre os tombos e a sua mão



Ficaram aqueles gritos dados no escuro

Ficou o anel, a foto, o papel

Ficaram sentimentos amassados

Ficou o azul-escuro do céu



Entre a aurora e o crepúsculo

Foram tantos desvarios

Noites tornando-se dias furtivos

Dias que passavam os dias sem sentido



Ficaram as grades daquela prisão

Que você deixou pra trás quando fugiu

Vi pegadas pelo chão

Mas eu não quis segui-las



Foram-se a aurora e o crepúsculo

E ficou essa noite sem estrelas

A tua estrela está apagada

E eu, sem a minha morada

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

... é quando não precisa perguntar.


Duas lágrimas conseguiam encontrar seu caminho no meu rosto já molhado, enquanto um sorriso se formava nos meus lábios secos. Minha boca ainda permanecia aberta, perplexa, como a de uma criança que vive um pesadelo. Meu coração, entretanto, parecia se aquecer, se destituindo da forma petrificada, a qual se prolongava pelas horas de aflição daquele dia, depois dos dias que se seguiram, e semanas... Ele era uma pedra redonda e chata, mas as palavras que me chegavam por uma tela imensa e fria faziam com que minhas mãos parassem de tremer. Meu rosto, contraído, sentia um pouco da leveza dos primeiros pedacinhos de paz que me embrulhavam o casulo. As mãos dela amoldavam a pedra, pois eram capazes de amolecê-la. Ela tinha a receita para acabar com a minha dor, e fazia.


Meus pensamentos ainda estavam revivendo o dia anterior: um momento de leveza de alma, vários sorrisos e depois veio a explosão. O prédio todo era posto abaixo e eu não era mais a espectadora. Eu estava no jogo, e vivendo, e morrendo. Foram muitos açoites e várias janelas quebradas a pedradas. Sentia na pele o rasgo firme e fundo. Mais, sentia-o na alma. Lembro-me apenas de palavras caladas que saíram como um grito incontido. Grito este que jamais deveria ser escutado. Eu não podia tê-lo ouvido, mas as vozes roucas, fortes e graves continuavam a procurar seu caminho até mim. Eu me escondia, tampava os ouvidos, mas nada adiantava. Ninguém podia conter tamanha fúria. E me encontraram. Acabei me perdendo na artilharia confusa, com armas apontando para todos os cantos. Ainda não me encontrei.

Tremendo, tive medo. Escorei na janela para que ninguém me escutasse. Só o céu era testemunha daquela dor imensa, mais ninguém. E eu não queria... Sabia que ninguém seria capaz de me ler nas reticências e eu não podia dizer nada além de meras reticências.

Minha vontade era de gritar até que alguma estrela me ouvisse, mas pensei melhor: mesmo que ela me ouvisse, não desceria do firmamento para me dar um abraço. Nem para oferecê-lo. Decidi, então, recusá-lo primeiro, para não sentir a dor de uma recusa.

Com passos de fé, voltei àquele abrigo do início, que me havia proporcionado sorrisos, mas agora já não havia ninguém lá. Eu era invisível e não conseguia me encontrar... Talvez ninguém quisesse me encontrar. Recostei-me na dureza daquele chão e me deixei ficar. Esperei. Ninguém veio.

Decidi então que era hora de me fingir feliz. Quem me quisesse, me perceberia, mesmo que perdida na farsa de uma alegria inventada. E alguém percebeu. E foi quem me fez sorrir entre duas lágrimas num rosto molhado. Foi quem falou, escutou e acima de tudo: me sentiu. Foi quem não me perguntou, porque não precisava perguntar. Foi quem não aceitou uma resposta mentirosa de que estava tudo bem. Foi quem não se entregou à própria mediocridade e ao egoísmo que assola tudo o que está em volta. Foi alguém que está além das estrelas.

Outras velhas estrelas se cansaram do meu fingimento que, me desculpem, não era bom o suficiente para convencer ninguém. Eu, me desculpem, não soube fingir estar alheia aos escombros ao meu redor, só para fazer alguém sorrir. Eu, me desculpem, prezo somente a amizade daquela que moldou a minha pedra. E se alguém disser o contrário, me desculpem, mas eu não preciso provar que nada disso precisa ser provado.

Ficamos eu e aquela amizade, sozinhas no sereno. Que ela me guie, como sempre faz. Que eu sirva de apoio também a ela, quando precisar. Que as nossas gargalhadas continuem a soar sinceras pelo resto desse túnel inundado por acontecimentos bons e ruins que é a vida... Que a nossa vida permaneça unida sinceramente, por laços reais e não apenas pela culpa de ter que ouvir. Que eu, um dia, consiga lhe agradecer pelas palavras, pelo carinho dispensado a mim em todos os momentos, pela alegria que ela me proporciona por se fazer presente, sempre. Que eu consiga, em algum momento, sentir o amor que ela merece, porque o meu é enorme, mas não é suficiente se comparado à grandeza dessa amizade. Que o resto fique caído ao meu redor, mas que no centro da minha vida eu consiga fazer com que esta única permaneça.

Eu só queria agradecer pela paz, pelo conforto e pelo abraço.


sábado, 10 de outubro de 2009

Me conhecer?


Conhecer alguém pode acontecer em horas de conversa. Cada sentença proferida vai delineando o seu caráter, sua personalidade, sua forma de ver as coisas. Entretanto, o que é isso? Isso não significa nada. De que adianta "conhecer" alguém como é, se ninguém é nada? Nós "estamos" alguma coisa. O estado de espírito de um dia pode ser diferente do dia seguinte. Alguém pode acordar amanhã pensando totalmente diferente a respeito de um assunto qualquer. Alguém pode abrir os olhos ao levar um choque. As pessoas mudam, constantemente. E aí? Conhecer o que ela é, não adianta.
A mim não interessa que conversem horas comigo, me façam rir, chorar, pensar. Tanto faz. Talvez a pessoa tenha me conhecido, mas... Saber como eu sou sem saber por que sou, não faz a menor diferença.
E saber por que sou é, sim, conhecer minha essência. É o que não vai mudar, porque foi moldado pelas marcas do passado, que fazem parte da minha alma. À minha essência, poucos conhecem e, eu conheço a de poucos. Entender o que eu digo é fácil, mas saber "por que eu digo" é que custa horas de atenção e interpretação, o que não ocorre em simples conversas.

Enfim, depois de tudo isso, vou colar aqui meu "quem sou eu" do orkut, porque eu sei que alguma hora eu vou me rebelar e apagar tudo - essa inconstância...


Aí vai:

quem sou eu:


Sou de qualquer jeito, nem tudo eu respeito.


Nunca me definiram tão bem quanto um amigo, que disse que eu como cérebros, e não corpos. Complementa-se com a frase de Fernanda Young: "excitem-se com inteligência!"



Além disso, já falaram do meu jeitinho meiga, que encanta. Minhas palavras de mulher decidida. A forma como eu posso ser uma menininha, mas quando precisa, minha maturidade grita.

Eu “queria ter a carta natal do universo, e ver se entendia alguma coisa”. Eu queria trazer o infinito pra mais perto. Queria controlar meus movimentos. Mas ao invés disso, eu vou aonde eu vento leva, sem me esquecer de manter sempre um pé no chão. Eu tomo cuidado pra não voar muito alto, só chego à altura em que sei que me reerguerei de um possível tombo.

Eu sei prestar atenção das estrelas. Ainda mais quando as vejo num olhar.

Eu sei olhar o mar e esperar que ele me traga o que eu preciso, e sei também que a pressa pode estragar a surpresa. Hoje, já sei andar devagar.

Já cai e levantei tantas vezes, que aprendi a andar na beira do abismo. E o abismo não é tão ruim assim. É bom ver o escuro de lá de dentro, pra me lembrar de como eu sou feliz.

Ter problemas é um acessório da vida. Ela é um ir e vir constante, que, de uma forma inconstante, sempre nos faz enxergar o que estava escondido um segundo atrás. Eu aprendo a cada dia. Nem sempre erro, mas sim, erro muito. Os acertos, geralmente, compensam. Eu cuido dos meus amigos, tenho muito medo de perdê-los, porque aí não me sobra nada.

Sei dizer palavras bonitas, às vezes, mas não são elas que me convencem. E isso é justamente porque sei que mentir é fácil demais. O que você disser, a folha de papel aceita. Mas o coração da pessoa pode não aceitar... Prefiro não dizer do que magoar. “Calar é tático”. Gosto de sorrir, mas só quando for de verdade. Gosto de fugir, de vez em quando, pra me encontrar.

Gosto de me encontrar em alguém.

Gosto de sentir que fiz bem a alguém, que meu conselho ajudou, que um sorriso dele foi graças a mim.

Gosto de escrever, mas não gosto do que escrevo.

E eu toco violão pra espantar os fantasmas.

Observo a noite, quando chove. Fico na janela, olhando o mundo que parou de girar, porque ninguém está vendo.

Eu gosto de gritar porque calar faz mal. Gosto de te fazer saber o que eu sinto. E eu gosto de sentir, amo sentir. Sinto tudo, de bom e de ruim, muito intensamente. Pelo menos, eu não estou só passando pela vida, estou vivendo.

Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana


"(...) não acredite em tudo o que ouve. Nem em tudo o que diz. Suspenda a descrença quando quiser prazer. Não subestime os outros, nem os idolatre demais. Seja educada, mas não certinha. Faça coisas que nunca imaginou antes. Não minta, nem conte toda a verdade. Dance sozinha quando ninguém estiver olhando.

Divirta-se enquanto seu lobo não vem."

Martha Medeiros.



One more thing

Why is it my fault?

So maybe I try too hard

But it's all because of this desire

I just wanna be liked

I just wanna be funny

Looks like the joke's on me

So call me captain backfire ♪

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Degrau por degrau.



Às vezes, no curso de Direito, nós temos aula de Direito e não apenas de Leis - como quase sempre. Hoje foi um desses dias... Logo hoje, depois de me apaixonar por psiquiatria, depois de pegar livros na biblioteca, depois de devorá-los, depois de me fascinar ao conseguir entender um pouquinho de mim e do que me tem acontecido... Logo hoje, minha professora vem e diz: vocês são livres.
Ela nos levou pra fora, porque o Direito não se aprende, necessariamente, entre quatro paredes. A opressão que sentimos na sala de aula, ao sermos obrigados a mantermos o código sempre aberto, fazermos anotações, lembrarmos de súmulas do STF, STJ, leis ordinárias, leis complementares que modificam ou extinguem direitos antigos, modificações que surgiram ontem, coisas inter-relacionadas que, na verdade, só nos confundem mais... É uma pressão sufocante. É a lei seca. Não há Direito ali.
Aquela euforia de começo de curso, de aprender coisas pra vida, não existe mais. Agora, são horas e horas debruçada em livros, na internet, em pesquisas, escrevendo artigos, decorando leis, escrevendo almaços inteiros nas provas, desenvolvendo novos métodos, aumentando a capacidade de raciocínio lógico-jurídico, vivendo situações inventadas como se aqueles fossem os maiores problemas do universo porque eu preciso resolve-los. Preciso descobrir qual é a lei, qual é o artigo, qual é o direito. Nas provas, só vêm problemas que precisam de solução.
Esses fatos que vou supostamente enfrentar na minha carreira estão vindo como a questão principal, como o que é realmente importante. Mas, na verdade, não é.
O ser humano é o importante. Fodam-se as leis que se aplicam a ele. O que importa é "por que" ele vai sofrer as consequências... Mas ainda esse assunto está fora do que eu quero pra mim, agora. Não gosto de ficar filosofando sobre problemas que eu não posso resolver. O que me interessa, nesse curso, sou eu, antes de tudo. O que EU estou fazendo aqui.
Todos os dias, me são apresentadas novas situações problematizadas. Eu vivo para encontrar soluções. Mas me manter nesse mundo de "soluções" não tem dado muito certo. Preciso me concentrar nas bases do edifício, na raiz do problema, no "por que ele surgiu" e não em "como ele poderá ser resolvido". Claro que isso se aplica ao direito, e já estudei exaustivamente esse tipo de aplicação, no ano passado. Mas... Que tal vivenciar o curso? De verdade? Aplicar à minha vida o positivismo - ou não - que eu aprendo lá?
Eu amo a subjetividade... Percebe-se.
Adoro encontrar os caminhos, perceber que há desvios, mas que, mesmo assim, eu me mantive na rota. Entretanto, às vezes é hora de parar e olhar pra mim. Fazer uma balança em que se pesem o passado e o que se espera do futuro, para se saber se esta rota não está em colisão comigo mesma. No caso, se o meu curso não está colidindo com os meus interesses. Ainda agora, não quero entrar na discussão de "este curso é o certo?", mas sim, voltar àquela velha frase do "da Vinci", que ficava num cartaz na minha parede: "A sabedoria da vida não está em fazer o que se gosta, mas em gostar do que se faz". Simples assim.
Eu, hoje, acordei amaldiçoando o fato de ainda ser quinta-feira. Não me lembrei de que aula é uma coisa maravilhosa. Não pensei que, na aula de Direito Empresarial, eu faria uma pergunta que suscitaria discussões o suficiente para uma aula inteira. Não achei que seria possível subjetivizar a este ponto a Personalidade Jurídica. E foi. E meu professor é um gênio... Nos enveredamos por caminhos confusos, doutrinas divergentes, sistema burocrático nacional, a forma como nos manipulam como a ovelhas num pasto, cercadas por todos os lados. É nesses momentos que eu me convenço de que meu curso é maravilhoso. Ele é difícil, complicado, chega a ser penoso, exigente. Me exijo demais, e por isso acabo me destruindo aos poucos... Minha saúde reclama, minhas notas refletem o meu estado emocional... Me derrubam mais ainda.
Decidi que tenho perdido muitas oportunidades de provar que eu não preciso provar nada. Decidi que eu tenho pensado demais, e por isso, não tenho me admitido como um ser humano feliz. Decidi que, se eu gosto de fazer essa roda girar, eu não posso me ater aos resquícios do passado, porque eles ficaram lá e serão lembrados... Mas o presente é bem melhor justamente devido a essa cessão...

São tantas coisas, é o infinito que eu tento pôr no papel. São essas sensações que me fazem acordar de um sonho com o ex, às três da manhã, e não conseguir mais dormir. É tentar refletir demais sobre minhas atitudes antes e depois, é aquele arrependimento que não pertence àquele lugar, àquele momento, mas vem. E eu sei que não há motivos.
Enfim, esse texto ficou muito vago e confuso, tão confusa está minha mente, agora.
Só pra fechar então, vou tentar concluir algo disso:
O curso de Direito se preocupa com as grandes questões humanas, tanto que se trata de ciências humanas. Depois disso, vêm as soluções para os "subproblemas", que surgem desses grandes problemas. O que eu tenho que fazer, sistematicamente, é solucionar as situações fáticas expostas. De tanto procurar e encontrar soluções, as perguntas vão ficando meio sem sentido, e já não me importa respondê-las, mas sim, elaborá-las. É aí que surge a crise existencial: saber quais são as perguntas. Quando eu descubro, as faço, mas não as consigo responder. Então as deixo de lado, e passo a perceber o cotidiano, o que me vem de bom, o quanto eu gosto do que faço e do que pretendo passar a vida toda fazendo. Depois de me entender como um ser humano que gosta de atingir os objetivos que traça, posso traçar outros. Um deles é saber me responder. Esse, provavelmente será eterno... Será aos poucos, devagar, mas nunca atingido plenamente, na essência... E daí vem o infinito e todo esse círculo vicioso do qual eu não saio mais...
E a filosofia que eu odeio? Aí está ela, me encurralando por todos os lados, me mostrando que eu preciso dela e que, me entender, ou tentar fazê-lo, faz parte de me encontrar. E me procuro...


*A foto foi nessa aula de hoje, lá fora, na "Praça do Conhecimento". Estrelando minha calça jeans e meu dedo, que ficou um pouco em cima da câmera, pra disfarçar. HAHA


terça-feira, 6 de outubro de 2009

O que é que fica pra sempre?


“Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora. Eu queria ser trapezista, minha paixão era o trapézio. Me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava-me as mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo, tinha medo de tudo quase: cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo: do que não ficava pra sempre.



Era outra vez outro parque, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou à cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo e eu entrei no meio deles e falei que queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, mas era uma moça forte, era uma moçona mesmo. Me olhou, riu um pouco e disse que era muito difícil mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Polly, veio o Topsy, veio Diderlang, que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público... De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto.Quando eu cansei de ficar olhando pro alto e fui olhar pras pessoas, só aí eu vi que estava sozinho”.
 
 
 
 
Era disso que eu tinha medo: do que não ficava pra sempre.
 
Está na hora de parar de pensar no futuro, que, supostamente, é melhor que "este hoje escuro".
Nós costumamos construir as relações pensando no que ela trará de bom, querendo estar lá quando ela precisar, e saber, ao mesmo tempo, que ela também nos esperará. Mas como ter a certeza?
O que podemos esperar é o que nos foi prometido, nada além disso. A visão que temos ao observarmos à distância uma amizade qualquer, costuma enganar bastante. E acreditar que alguém prometeu a eternidade, o companheirismo, o ouvido, quando, na verdade, não prometeu nada, significa o quê? Essa carência por encontrar alguém... E, ao encontrar, desenhar um deus, uma marionete que dirá o que queremos ouvir.
Será que pode haver amizade sem cobranças?
A admiração, que às vezes ultrapassa fronteiras, também engana por nos fazer pensar que ela é mais.
Esse vão que faz entre minhas mãos porque as suas não querem estar nelas, continuará aqui, esperando. Mas eu também não prometo a eternidade.
Amizade sem promessas é uma amizade sem limites, sem "até onde POSSO ir" ou então "até onde PRECISO chegar".
É te encontrar e precisar contar; é ensurdecer para o resto do mundo, só pra te ouvir. É a vontade doída de dar um abraço, é confiar e dizer, é chorar. É saber quando parar, quando é necessária uma felicidade instantânea e quando devem ser discutidos os grandes problemas. É fazer parte daquela mesma crise existencial em que os pensamentos correm e chegam juntos. É estar junto, mesmo longe, por conexão. É sentir-se como se sente o amigo. É saber, sem que ele conte. É quando ele não precisa contar.
 
E que dure o tempo que durar, que seja bom, que provoque risadas, reflexões e afagos. Que seja breve e louco ou longo e são, mas que seja.
 
Vivemos num mundo canibal onde é cada um por si. Ninguém sabe a importância de um colo até que precise de um. Precisamos de alguém que nos leve a dizer coisas que nem a nós mesmos, admitíamos. Preciso que alguém me leve a pensar, me faça crescer. Que me leve a alçar vôos, mas que me puxe de volta ao chão. Que fale besteira quando eu estiver triste, pra me fazer sorrir, mas que perceba quando esse sorriso não for sincero.
 
Mudam as estações, mudam os colegas, mudam os lugares, mudam as cores das flores. Mas meus amigos? "Quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só de quem me interessa".
 
 
E se não ficar pra sempre?
Não quero cobrar isso de ninguém, quero apenas ser amigo, enquanto for. Estar ali, enquanto eu estiver. Porque as lembranças e todos os sorrisos ficarão guardados, mesmo que as flores já estejam murchas e as cores já tenham mudado. O vão nas minhas mãos voltará, mas em breve será preenchido por outras... Nesse ir e vir sem razão da vida, ficam as pessoas que foram importantes guardadas num cantinho do armário. Queria guardar num frasco, pra poder abrir e sentir o perfume daquela amizade antiga. Já que não posso, paro e sinto, agora. As amizades de hoje, que podem sumir no amanhã incerto, estão sendo bem aproveitadas. Os momentos, bem vividos. Assim, a dor da perda tornar-se-á mais suportável, se for sentida com o coração cheio desses perfumes, bem guardados aqui dentro.
Não preciso mais sentir medo do que não fica pra sempre, se eu conseguir transformar esse presente num momento eterno.