segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Véu


Todos os caminhos são passos
Estão lá os traços
Me querem no chão,
Mesmo que em pedaços
E soltaram minha mão.
Caem as gotas do céu
Como as do rosto corado
Cores por trás de um véu
Olhos sozinhos nublados.
Como um trajeto pré-determinado
Eu sigo por cima das falhas
Na corda-bamba da intuição
Nos buracos esparramados pelo chão
Nas batidas.
Não há explicação
Ninguém queria ver
Destino sem destino, desviado
Virado para o outro lado
Querendo não ser
O asfalto queima
Meu peito em brasas, grita
Quente, canta, triste
Porque não mais existe, mas insiste...
Voltar a não ter, não querer, não sonhar
Voltar pela estrada que já ficou
Uma única mão que me pára
Seduz, acalenta e ampara
Mas depois me deixa só
No meio da encruzilhada
Sem mapa, sem enxergar nada.
Eu sei que ainda tem um desvio
E eu já não estou aqui
Só comigo, eu caminho
Vou tentando me encontrar
Sair de onde me perdi
Chegar, enfim, a mim.


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Elo

Senti sangrar o peito, como o último caco de vidro que sai do machucado. Aquele que fica embaixo da pele e dói tanto, que a gente deixa lá, por medo. Mas o medo corrói e corrompe. Ele fica maior do que é e começa a atingir tudo ao redor. O medo muda até a forma de ver as coisas, muda a nossa percepção. É como se todo mundo quisesse te machucar. Cada pequeno problema em casa, no trabalho, na faculdade, no trânsito, na rua, vai ficando imenso, porque vai juntando. E mudamos a forma de agir também. O receio domina, e não adiantam mais as palavras, a gente passa a sentir necessidade de demonstrações... Mas não é o tempo todo. Não é sempre que dá pra cruzar a ponte.
Eu rompi o elo de algo que me puxava pra trás. Mas, pra enxergar isso, veio primeiro uma explosão. Foi tudo de uma vez, tomou o quintal e eu quis trancar a porta, para que as ondas parassem de chegar. Mas elas vinham, me atingiam da mesma forma. Eu vi que apenas trancar a porta não me protegeria. O que me protege, sou eu mesma. É tentar me saber melhor...
Enquanto isso, algumas provas foram dadas. Lindas provas. Mas eu precisei de um tempo pra botar tudo no lugar. Tentei, aos trancos e barrancos, conservar a parte boa, a única que valia. Já no que diz respeito à parte ruim, fui tomando fôlego. Eu sabia que seria difícil enfrentar.
Mas fui com um discurso pronto, que, na hora, foi todo mudado. Já não servem as frases prontas e certezas postas na mesa, quando há tantas feridas em jogo. Coloquei as cartas, mas virei a mesa. Joguei no chão. Pra quê explicações? Só devo fidelidade à minha consciência. Eu disse o que tinha pra dizer, e já não implicam em nada as alegações de que mentiram pra mim, “não é nada disso”, “eu nunca fiz nada errado”.
Erros todo mundo comete. O meu erro foi ter acreditado. Talvez nem seja um erro, deve servir de aprendizado. Vai servir pra alguma coisa.
Os papéis todos pelo chão, jornais e diários picotados porque não contam mais a vida que é, e sim aquela em que eu acreditava. Recortei o que de bom sobrou ali.
Mas cadê a leveza por ter cumprido o que eu vim pra fazer? Eu descobri que ela não vem de graça, nem rápido, nem fácil. É difícil, tem que procurar. Mas agora sinto que já há mais espaço livre aqui dentro, sem o último caquinho de vidro. Mesmo que eu ainda não consiga olhar para o lado, que eu deixe passar oportunidades, romances, amores... Mesmo que eu me sinta completa, mas faltando um pedaço, que eu não sei explicar se está em mim ou em outro alguém... Mesmo que eu só toque a brisa leve com as mãos, é o início do verão, de qualquer forma!


domingo, 22 de novembro de 2009

Caixinha

Procurei na caixinha de lembranças uma forma de me encontrar. A luz da lua entrava por uma fresta fina da cortina, que eu não gosto de fechar toda – a isso, dou o nome de possibilidade. Resolvi me levantar porque minha cabeça não encontrava uma posição confortável no travesseiro. O problema não era no travesseiro. O problema era que ela não queria se desligar. Sentada na cama, uma camisola leve me cobrindo e eu recostada na parede, sentindo o frio que vinha dela. A madrugada chegando e meu corpo, cansado, não queria dormir. Confusões mentais me deixavam agitada e eu podia me virar para todos os lados, mas não encontraria respostas. Sentada estava, então, com a caixinha de memórias no colo. Ao lado, o violão surrado, cansado de me afagar com o seu som, me espiava mudo. O frio que percorria minha espinha era insistente, nem sei mais se vinha da parede ou de dentro de mim. Era doce o meu reflexo no espelho. Mas não me refletia. Era um rosto apático, mas calmo. Era uma alma leve. Com meus pés descalços, caminhei até a minha imagem. Toquei. Mas foi um toque sem sentido, porque eu não me senti. Era mais uma superfície fria tentando me roubar de mim.

Olhei-me nos olhos, já que há muito não olhava nos olhos de ninguém. Não havia brilho ali, parecia que ele tinha sido roubado pelas tardes que ficaram vazias depois dessa ausência que me foi imposta. As tardes costumavam ter brilho. Meu olhar caiu até se perder dentro de mim, dos meus sentidos, dos pensamentos que não se deixavam esvaziar. Voltei a passos lentos até a cama, peguei o lençol que eu negligentemente havia deixado cair, porque simplesmente não me importava o calor que ele podia me trazer. Seria um calor irreal, que não me aqueceria. O calor de que eu precisava estava além do que algo material poderia oferecer...


De volta à caixinha de memórias, uma flor seca. Foi colhida entre sorrisos e abraços, entregue com uma jura eterna de amor, colocada nos meus cabelos com tanto carinho e ternura que seria um crime retirá-la de lá. Mas o tempo retirou e se encarregou de arrancar junto sua cor rosada, transformando-a num amarelado morto, meio bege, acinzentado. Cinza é a cor do estático. Mordi meus lábios numa forma de conter as lágrimas. Com as mãos pressionei minha boca, para que não se abrisse num grito infundado: era madrugada. E era esse o único motivo para que eu contivesse essa vontade imensa de jogar pra fora o que já não me cabia. Contentei-me em calar o berro, porque não faria a menor diferença... Já acumulei tanta coisa que explodir é apenas uma conseqüência – inútil – de toda essa dor. É inútil porque não bastaria uma explosão só. Mesmo que eu me partisse em mil pedaços, cada um ainda passaria um bom tempo sangrando.

Na caixinha de memórias tinha uma foto rasgada no meio do ódio. Colada com durex. Tornei a rasgá-la. Infelizmente, rasgar as fotos não muda o passado. Se eu pudesse simplesmente excluir aquela pessoa de um momento feliz... Que o momento durasse, mas que eu pudesse expulsar sua presença, tão torpe era ela. Não pude alterar o passado, sobrou-me apenas uma foto rasgada, com todas as correntes invisíveis que ficaram gravadas nela; todos os tons de azul do céu que anunciava um banho de chuva; com o romantismo de dividir um guarda-chuva e se molhar do mesmo jeito; com a lagoa ao fundo e os risos que ela ouviu – risos que, agora, eram mudos. Com a presença morta de alguém já ausente.


Na caixinha que guarda tantas recordações, eu procurava apenas um motivo que justificasse tanto tempo. Sinto que perdi os motivos. Sinto que nunca soube ao certo guardar aquilo que era duradouro. Aquilo que continha o segredo de fazer durar. Sinto que me enganei demais, que via apesar de não querer ver, que apreciava a entrega, mas será que a entrega é eternamente verdadeira?

Acho melhor colar de novo a foto, porque nela, tudo aquilo era verdade. Era a minha verdade, ao menos. Vou fechar a caixa, mas não sem antes pegar de volta a minha felicidade que estava presa lá dentro. Se hoje eu vejo que nada valeu a pena, vou guardar só a alegria sincera. Vou pegar de volta a minha essência, aquilo que eu era antes de me envolver em mentiras erradas. Eu sei que aquela menina ainda está ali, e ela é minha, só minha. Pertencem a mim aqueles sorrisos e não me importam os motivos, porque eu vou inventar novos. Que fiquem os pedaços rasgados de passado pelo chão: estes não me interessam mais. Se os antigos conceitos só se prestam a arrependimentos, ainda há tempo para alterá-los. Minha vida é um ir e vir de opiniões. Trocas de opiniões. Passado e presente que se cruzam para construir da melhor forma possível as hipóteses de futuro.


Só quero voltar a me reconhecer no espelho.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Post nº 100

Algumas coisas que eu aprendi.


Aprendi que eu não me encaixo em moldes, não sigo modelos e odeio tendências.
Aprendi que andar olhando para o céu é melhor que andar olhando para o chão. Porque é lá, com as nuvens, que eu posso desenhar e ver o que eu quiser.
Aprendi que se eu me esforçar o suficiente, dá pra ouvir o barulho dos pássaros em qualquer lugar que eu esteja.
Aprendi que muitas vezes eu vou olhar para trás e não vou me entender. Às vezes eu não me reconheço nas fotos do passado. Às vezes meu sorriso muda.
Aprendi que fazer besteiras todo mundo faz. O que difere os sábios dos tolos é que aqueles têm a capacidade de aprender com os erros, enquanto estes sempre se tornam vítimas de si mesmos.
Aprendi a tirar o maior proveito possível dos instantes de prazer. E o prazer pode estar em coisas mais simples do que se imagina.
Aprendi que o maior sentimento de “dever cumprido” é, no final do ano, fechar um livro de 800 páginas e pensar: eu sei tudo o que tem aqui.
Aprendi que, por mais que eu queira superar meus limites, nada me faz correr mais – no bosque – do que trovoadas e um céu ficando azul escuro. (haha, no meio de tanta coisa séria, eis aí um fato cômico e trágico)
Aprendi que sair pra dançar, gritar, cantar e curtir com as amigas é bem melhor do que passar a noite com um cara qualquer.
Aprendi que, por vezes, as pessoas ao meu redor vão se envolver em teias e não vai ser culpa delas quando eu resolver não querer mais. Pessoas envolvidas em teias vêem tudo nublado.
Aprendi que eu posso querer uma coisa, bater a cabeça, sonhar, morrer por ela. Mas que, se eu não conseguir, é porque foi melhor assim. Agora, eu vejo.
Aprendi que uma vitória não chega sem muito suor. E, se chegar, não vale nada.
Aprendi que eu preciso olhar para o lado e estar cercada de amigos, mas que não adianta buscar na plenitude dos outros algo que encha o vazio que há em mim.
Aprendi que me afogar em mim faz bem.
Aprendi que acordar às quatro da manhã com inspiração é a melhor coisa que existe.
Aprendi que não devo voltar a dormir. Escrever folhas e folhas corridas, perder o sono, olhar o mundo lá fora, chegar a um conhecimento tal de mim mesma que dormir já se torna desnecessário... Tudo isso é uma dádiva que eu preciso saber usar.
Aprendi que dar a outra face não é o meu forte, mas que por um amigo eu passo por cima, e dou.
Aprendi que conversar comigo não é loucura. Loucura é me deixar perder nesse mar de indagações sem respostas. Se eu puder me responder, valeu a pena.
Aprendi que construir e desconstruir faz parte da vida. E que matar um sentimento dói, mas cura.
Aprendi que acreditar nas pessoas pode te levar ao céu ou ao inferno... Mas que vale a pena acreditar mais uma vez, tentar de novo. Não dá pra perder a fé na humanidade. Alguém, algum dia, vai dizer a verdade. E quanto ao resto? Quem me enganou? Não sinto mágoas nem angústias, porque eu dou sinceridade sem esperar sinceridade em troca.
Aprendi que não bastam as convenções, o que vale é o caráter. Ninguém demonstra ser o que realmente é.
Aprendi que a minha personalidade forte desagrada muita gente, mas que eu não sei atuar o tempo todo... Portanto, dou a opção de escolha. Quem escolher ser meu amigo pode esperar de mim tudo o que vem de alguém com caráter: lealdade, cumplicidade, segredos bem guardados, conselhos e esporros quando necessário. Mas isso tudo vem com uma inconstância incrível, uns momentos em que me interno dentro de mim e ninguém tira, sensibilidade à flor da pele, risos e choros no mesmo dia. Eu sou assim, “minha inconstância sorri”, construo todos os dias minhas verdades e sonhos e conquisto a vida, porque ela merece ser mais que sóis que nascem e se põem.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Batalha




Conforto e Confronto.

São as mesmas letras, palavras com sentidos opostos.

Opostos? Nem tanto.

Por que é que o confronto não poderia muito bem causar conforto?

Porque explicar as coisas de outra forma, uma contrária, a faz sofrer.

E se o sofrimento faz evoluir

E a evolução traz conforto?

Conforto não se reduz a um abraço

A palavra que precisa ser dita

Àquilo que ela queria escutar...

Se conforto for assim, superficial

Se alguém que aparece, assim, consegue trazê-lo

Sem mais, sem porque...

Se isso a faz feliz, que seja feliz.

Mantenha ao seu redor todas essas pessoas:

Quem faz mal e bem e mal...

Fazendo bem de novo, confortou.

Mas idéias ficaram sem confronto!

Que descansem as forças de batalha

Já que o cérebro não quer pensar, deixa o coração entender

Ele entende, mas passa

E a dor volta.

Sem confronto, a dor volta...

Fica o “perdão” não merecido

Por não ser contradito, apesar de tão contraditório.

domingo, 15 de novembro de 2009

Corredores

É o nome do meu blog. Foi escolhido por retratar os corredores da minha alma, que vocês podem visitar, se quiserem. Tá, isso ficou emo... Enfim, eu não podia deixar de colocar aqui o  vídeo da estréia do show N9VE da Ana, em que ela cantou pela primeira vez Corredores ao vivo, e ficou LINDO.



Eu andei, sorri, chorei tanto. Não me arrependi, ganhei e perdi, fiz como pude... Lutei contra o amor, quanto mais vencia me achava um perdedor... Mais tarde me enganei e vi com outros olhos quando às vezes não amei a mim não por falta de amor, mas amor demais me levando pra alguém. Quem? Visitou os corredores da minha alma soube dos enganos, secretos planos e até os traumas, eu sempre fui muito só. (é, ela erra aí nessa parte). ... Eu andei, sorri, chorei, tanto. Fui quase feliz, fiz tudo o que quis, fiz como pude. Desprezei meu ego, dando esmolas a ele como se fosse um cego. Mais tarde me enfeitei, e até pintei os olhos... Quando às vezes não amei a mim, não por falta de amor, mas amor demais, me escapando pra alguém... Quem? Visitou os corredores da minha alma soube dos meus erros e dos nós que fiz, bem na linha da vida... Eu sempre fui muito só.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Rio

"E deixo pra depois o que eu tinha que fazer, o destino aceito sem dizer sim ou dizer não, sem entender...♪"




Eu quis correr até ser capaz de me encontrar no seu olhar, quis enfrentar os seus perigos, sobrevoar seus precipícios, me perder no seu abismo, ser sua. Eu quis que, ao menos naquele dia, não houvesse nuvens no céu. Que a sua sedução não corresse até mim como a água no rio, que leva tudo de bom e de ruim, mas sabe fazer qualquer barquinho, como o meu, naufragar. Eu poderia ter perdido a vela, perdido o caminho, a bússola, o cruzeiro, o meu rumo, mas jamais poderia perder o seu rumo. E perdi. Esqueci, por um momento só, que as pedras do caminho estão para ser chutadas e não para me impedirem de chegar. Demorei até perceber. Percebi tarde demais, seu olhar já não me chamava... Não me adiantaria correr, só chegaria a tempo de ver suas costas que, me vendo chegar, me avisavam da tua partida. E não fui. Não quis tentar gritar, eu sabia que não arrancaria uma virada tua. Sabia que não voltarias o olhar para o meu. Esperei que o trem partisse sem sequer sentir um aceno seu. Não o procurei, posto que não o encontraria. Decidi que não mais correria. Parei para olhar o rio, o seu rio, aquele que eu te dei. Aquele que enfeitou nossas tardes e deixava a aurora mais bonita... Aquele que me despertava mais cedo para que eu visse o seu sorriso. Este, ele não mais veria. Nossa imagem, não mais refletiria. Mas continuaria a correr e a levar as flores que jogamos. Que venham mais flores até mim, que as nossas nadem até outro amor qualquer, que a correnteza te leve daqui.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Teste

Atoron fazer teste quando não tenho mais o que fazer. ;)

Resultado: 40 pontos

Os outros te vêem como alguém sensível, cauteloso, prático e cuidadoso. Te vêem como inteligente, talentoso, mas modesto. Não uma pessoa que faz amigos muito rápido e fácil, mas alguém extremamente leal aos amigos que você faz e que espera a mesma lealdade deles. Aqueles que realmente te conhecem percebem que é difícil abalar sua confiança em amigos, mas também leva um bom tempo para recuperá-la se esta confiança se acaba.

Teste de Personalidade

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Espelho

Mais de mil visitas a esse blog em mais ou menos dois meses. Então é assim, tenho leitores? HAHAHA
Ou então uma galera passa o dia dando F5 aqui kkkkk


Enfim.


Hoje eu não quero falar. Acho que estou querendo escutar.
Então pra quê ter um blog???
Justamente. Acho que o motivo está na primeira linha ali em cima. =\

Então já que eu não quero falar e preciso escrever, vamos ver... Vou escrever sobre estar na cama ouvindo a chuva neste momento? Não, já cansei de falar disso...
Eu poderia escrever sobre o meu "choque com a realidade" e minha onda "saudável". Mas não adiantaria, porque isso são coisas que a própria pessoa precisa decidir e não adianta ninguém dizer. Me deu um click, eu resolvi e fiz. Não foi porque ninguém disse. Aliás, vocês já devem saber que eu adoro nadar contra a corrente "só pra exercitar..."
Exercitar o quê? Auto-confiança, senso crítico, responsabilidade, formar minhas opiniões, transmiti-las aos outros. Dialética, retórica. Perguntas e respostas. Saber responder é menos importante do que saber perguntar. Conseguir entrar num confronto de intelectos... É, é importante pra mim, e eu tenho sentido falta...

Mas tá, sem "nerdice" por hoje.

Estou cansada...


Outro dia eu abri o freezer pra pegar a minha garrafinha de água e ir correr - #ondasaudável - e me veio uma coisa à cabeça: Não me faltam possíveis parceiros. Faltam-me motivos.
"Ainda não estou pronta pra viver um novo amor".
É difícil para as pessoas aceitarem.
Outro dia me chamaram pra um churrasco. Vão as meninas e os namorados. O meu também estaria convidado, se eu tivesse um. Não pude conter esse pensamento, apesar de ninguém ter dito. Porque o normal é namorar. Por que o normal é o amparo de uma pessoa na outra? Será que se o relacionamento não fosse visto muitas vezes como "chão" haveria tantos casais suportando tantas coisas simplesmente em troca da presença do outro?

Quarta-feira eu olhei pela janela, havia um homem discutindo com a namorada. Ele a encostou na parede, então não pude ver mais nada... Mas ouvi socos, gritos, chutes e ele finalizou a brutalidade toda jogando um capacete na menina... Vi o capacete quebrado no chão. Vi o cara saindo. A menina ficou lá. Havia gente na rua, devem ter ido ajudar... Talvez. Eu não quis ver o final... E sabe por quê? Porque eu duvido que essa pessoa foi à delegacia registrar uma "notitio criminis" (é, registrar B.O., mas é que meu prof de penal me proibiu de usar essa expressão... Preciso falar em latim, olha só ¬¬). Provavelmente ela voltou pra casa, correu pro banheiro, encheu a cara de base e pó para que ninguém visse o roxo e continuou o relacionamento. Por quê? Porque o imbecil machista dá a ela o que o pai nunca deu? Talvez... Faltou a figura protetora, ou ela foi embora, ou ela não quis mais. E ficou a necessidade, o vazio. Preencheu. Melhor ficar sem nada...
Melhor saber que o nosso espelho só precisa conter a nossa imagem e de mais ninguém.
O meu espelho me basta.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Janela



Eu nunca temi estradas
Nunca fugi do escuro
Olhei pelas janelas
Perdi o meu escudo

Vi tantos desvarios
Cometidos pela madrugada
Poucas luzes iluminando
Passos felinos pela calçada

Procurei a lua pelo céu
Aquela que há pouco me havia feito sorrir
Num sorriso incontido,
Me senti existir

Mas ela já não estava mais lá
Há quanto tempo havia mudado de lugar?
Passei a noite toda na janela
Mas nem vi a noite passar

Sobraram as estrelas
Sempre fazem companhia
Havia aquela que você me deu
Aquela que sempre me guia

Voltei pra cama, angustiada
Meus pensamentos não me deixaram voltar
Voaram alto, pra bem longe
Perto de onde não deveriam estar

Juntaram-se à nossa estrela
Te enxergaram em algum lugar
Então o sono veio
Permitiu-me te encontrar


Escrevi numa madrugada dessas de insônia. É verdade que a lua sumiu, durante o tempo que eu passei olhando... Quanto tempo será que foi? Não vi, nem quis ver...
Nesses momentos em que eu me encontro comigo, sinto uma coisa inexplicável. Algo que não dá pra dizer, não dá pra contar. São segundos eternos que eu filmo e guardo. Mas é tudo imaterial. É tudo sublime. Chega a ser surreal...

Eu gosto do meu silêncio, meu tempo, meu sentimento. Eu gosto de organizar as idéias. Eu gosto de parar, me ver.

domingo, 1 de novembro de 2009

November

“’Cause nothing lasts forever, and we both know hearts can change, and it’s hard to hold a candle in the cold November rain....”






É, já chegou novembro. Não vou começar com aquelas histórias de que a gente fica contando o tempo, esperando que passe logo, ao invés de aproveitar os segundos de vida. Não vou porque é simplesmente clichê demais, e pura mentira. Todo mundo acorda na segunda querendo que chegue logo a sexta.



Mas acho que a gente pode olhar pra essa “espera” por outro lado... Sem correlacioná-la exatamente com a espera de um dia após o outro, mas uma espera que é inerente ao ser humano, intrínseca às relações. São duas situações:

Primeiro: A gente “sempre” espera que os outros tomem as atitudes.

Segundo: A gente “sempre” espera encontrar em alguém a felicidade.



“Sempre” entre aspas só para não generalizar. ^^

Sobre o primeiro, não vou me alongar muito, porque eu sei que a maioria é assim, mas eu não sou. Eu sou daquelas decididas, que vêem algo errado e tomam atitudes.

Durante essa semana, houve um episódio lamentável. Eu faço Direito, pra quem não sabe, e meu professor simplesmente rescindiu um contrato verbal que tinha feito com a sala. Bom, pra explicar, acontece o seguinte: 130 pessoas fizeram a prova substitutiva dele, 90% não recuperou a nota e ele diz que pretende reprovar 50% dessas pessoas. 5 pessoas, dentre as 4 turmas de segundo ano, já passaram (eu sou uma delas), enquanto o resto ta quase morrendo afogado. O que ocorreu foi que ele passou um trabalho há dois meses, o qual eu já fiz, porque não deixo as coisas pra última hora, e essa semana ele simplesmente revogou o trabalho - não quer mais. Por volta de cinco pessoas já haviam feito, mas simplesmente disseram “tudo bem” ao ouvirem a decisão. Investigando, descobri que três das pessoas que passaram foram responsáveis por isso, porque pediram para que o professor “esquecesse” do trabalho e ele simplesmente concordou. Eu passei horas argumentando, e ele sem contra-argumentos. Adiantou alguma coisa? Não, diante de uma sala passiva de futuros advogados, eu fiquei sozinha. Sim, nossa juventude não é mais a mesma. Ninguém luta por nada. Começa na faculdade, com atitudes arbitrárias que são simplesmente aceitas. Acaba no senado com roubos estrondosos aos cofres públicos. Passividade é o nome, é a (falta de) atitude, é o vírus do século 21. Nunca mais veremos Zuzu Angels por aí, pra contar a história. Acho ótimo. ¬¬



Agora, quanto ao segundo ponto... Esperar até encontrar a felicidade em alguém. Outro dia eu conversava com um amigo – amigo não, colega – que tem a mania de estar sempre namorando. Ele disse que não sabe ficar sozinho. Eu entendo, já fui assim.

O que eu podia fazer era pedir para que ele não levasse tão a sério a voz do Tom quando diz que é impossível ser feliz sozinho. Ele estava irredutível, disse “precisar” de alguém. Ah, meu Deus. Ninguém “precisa” de ninguém... Pessoas vão e vêm. Pode parecer, na hora, que elas são imprescindíveis, mas assim que elas disserem adeus – e, vá por mim, muitas das pessoas que você conhece hoje, te dirão adeus – você perceberá que há vida após um último tchau.

Se falta maturidade, eu não sei... Ele já viveu tantas coisas, absolutamente muito mais que eu. Acho que o problema está na forma de enxergá-las. Comecei a tentar convencê-lo de que a felicidade não estava nos outros. Não é uma namorada que vai te fazer feliz, não procure isso nela... Um namoro, pra ele, é simplesmente uma válvula de escape e a segurança. Ele vê nesses relacionamentos um chão pra pisar. E quando eles acabam? Acaba-se o chão? Não, não dá tempo, ele logo o procura em outro alguém. Será que encontra mesmo o chão? Eu acho que é só uma ilusão. Você segura a mão de alguém e parece que está a salvo. Se você tem medo do escuro, acende a luz.

Isso são soluções paliativas. Enquanto o medo não for encarado como deve ser, nenhum remédio vai funcionar. Enquanto procurarmos o remédio nos lugares errados, não seremos curados... E o mal do século é a solidão? Às vezes é ela a melhor companhia. Não se engane, quem te faz sorrir nem sempre vai ser aquele que jamais fará com que lágrimas caiam do seu rosto. Tente não confiar demais em ninguém, não se espelhar demais, não crer demais. “Suspenda a descrença se quiser prazer”, já diz Martha Medeiros, mas... Ok, suspendamos a descrença por alguns momentos apenas. Logo em seguida, ela tem que voltar! Não me impeço de sonhar, apenas quero manter os pés no chão para não cair. A cabeça pode ir aonde quiser, viajar, supor, imaginar, fantasiar. Loucuras fazem parte do ser humano. Acreditar nelas é que é o problema. Não que eu sempre esteja me enganando quando sonho, mas eu preciso saber que há uma grande diferença entre o que foi imaginado e o que vai acontecer. Imaginar as coisas de uma forma diferente pode ser uma válvula de escape, mas nunca, NUNCA perca o controle dela. Abra só até onde você ainda enxergar uma frestinha da realidade e, se sentir que está fugindo demais, feche de novo. A vida é assim, sonhos às vezes se tornam reais e a realidade às vezes vira pesadelo... Vamos balancear tudo isso e traçar o caminho no chão de verdade.