O texto de hoje é longo, é meio filosófico e, eu preciso acrescentar: baseado na experiência de vida de uma garota de 18 anos. Então não espere NADA dele além de divagações tolas, as quais eu PRECISO escrever, pra não enlouquecer de tanto pensar nelas...
Estava eu, ontem, voltando do mercado, ouvindo o audiobook “Quando Nietzsche Chorou” quando o narrador, com toda a imponência que só José Wilker tem, disse: “O preço da autoconsciência é o desespero”. Eu dei pause. Fiquei com essa frase martelando a cabeça, a repeti, sem falar, mil vezes. Cheguei em casa, anotei no primeiro papel que encontrei.
“O preço da autoconsciência é o desespero”...
“O preço da autoconsciência é o desespero”...
É fato que muitos dizem que temos de espalhar energias positivas, dizer e pensar coisas boas, não lembrar do que é ruim, e esquecer o que faz mal. Eu concordo, às vezes. Claro que o que é positivo, traz coisas positivas. Mas é certo se esquivar do que é ruim, tentar esquecer, fugir, correr? Lutar contra pensamentos que lhe invadem a mente, sem que você tenha dado permissão? Não acho que deva me privar desses péssimos sentimentos, às vezes eles chegam e simplesmente me derrubam, me tiram o chão e eu caio, sem freios, sem contrapesos, sem direção, sem um rumo definido. Eu não sei para onde me levarão, mas não tento desanuviar minha mente. Não quero me esquecer do que ainda me priva de alguns sorrisos. Não vou enganar a ninguém, muito menos a mim, dizendo que as lembranças do passado, ficam lá. Dizendo frases bonitas e alegres, só para trazer a alegria. Isso seria egoísmo? Seria deixar que os outros saibam que algo me aflige, embora não possa lhes dizer o que é? Não me importo, somente quem se interessa por mim, é que pergunta. E, algumas vezes, até respondo. Não na plenitude, apenas digo o que é permitido aos outros saberem sobre mim. Como posso conversar sobre algo que nem eu mesma decifrei? Não quero incomodar ninguém com os meus problemas, minhas indagações sem resposta alguma, minhas filosofias baratas que só a mim interessam. Não quero prender ninguém.
Posso dizer que a noite é mais propícia para que apareçam os fantasmas. Tenho vários, não me atenho a um problema só. Quando estes tais pensamentos começam a me inundar, se sucedem, vêm todos ao mesmo tempo, mas, organizados... Um por vez. Penso em todos, não fujo. Alguns são realmente doloridos. O que mais machuca é a previsão do arrependimento. Sim, porque ainda não me arrependi... Mas há lembranças que me perseguem, das quais não adianta correr, contra as quais não adianta atirar. Abismos nos quais não me adianta atirar-me, pois seria nesse mesmo abismo o meu encontro, frente a frente, com aqueles medos, as recordações, o arrependimento. A possibilidade de ter sido diferente não me amedronta. Não me arrependo daquilo que não fiz. Por toda a vida procurei tomar minhas decisões para que esta última frase sempre soasse verdadeira ao sair da minha boca. Sempre deu certo!
Há outro medo que me atinge. Esse, sem natureza romântica, apenas um encontro casual, numa peça que o destino quis me pregar. O que me dá medo é a transformação pela qual esse sentimento passou. Foi de “amor platônico” a “amor não correspondido”. Acho que o amor platônico dói menos, porque sempre pensamos na possibilidade. O segundo, não. O segundo fecha as portas e já avisa que não vai mais abri-las. Já diz logo para ir embora. Tente mais tarde. Talvez!
É essa, a autoconsciência. Eu poderia simplesmente não pensar, não quero pensar. Mas é melhor ficar e encarar do que fugir e jamais me encontrar com a dúvida. Eu gosto da dúvida. Ela me deixa apreensiva, me tira o sono, me desespera, me atiça, me desmonta. Mas é benigna. Não pensar nela apenas adiaria uma futura e imprescindível desilusão, da qual não poderia escapar. Não posso escapar de mim, dos meus segredos, dos pensamentos.
E quando eu olho assim, pra mim, mesmo vendo o que não queria enxergar, percebo que me conheço melhor. Por mais que desaprove os sentimentos que me corroem, por mais que eu não queira senti-los, por mais que eu os ache abomináveis, que pense que eles não tenham função alguma além de fazer mal, eu não tenho controle sobre eles, apenas a consciência de que existem. E não queria ter esse controle, não. Não queria que a razão me dominasse, pois assim, as coisas tornar-se-iam sem sal, não teria a emoção de lutar contra mim mesma. Contra os pensamentos, nem luto mais. Já disse, melhor que os tenha, do que que os esconda. Mas... Os sentimentos, esses sim, não merecia tê-los. Não queria controlar, mas também não queria sentir. Essa intensidade com que eu vivo os momentos e sinto as situações, às vezes não passa de um defeito que, por mais que eu tente, é incorrigível. Não posso escolher não amar. Mas posso fingir que nada acontece. Entretanto, alguém vai perceber. Alguém verá as entrelinhas de um sorriso meu. Só espero que esta pessoa seja mais que meu cúmplice, porque aí sim, talvez eu possa me libertar de tudo isso, despejando nos ouvidos de alguém toda a aflição, e, por que não o desespero?