segunda-feira, 20 de julho de 2009

Posso falar?

Posso, né? Então vamos lá.

Meu pai disse: Vc continua me tratando desse jeito q eu vou cortar sua mesada no meio (de novo). Quero ver quando eu começar a te tratar que nem cachorro.
Aí eu disse: Quando você COMEÇAR? Peraí.
Mas eu não posso falar nada, pq na minha casa, ditadura e autoritarismo são beijinhos de boa noite no Hitler. Tudo bem, eu não falo. Mas aqui eu posso escrever né?
Então, você que tá esperando um texto "legal" (sim, pq algumas pessoas doidas acham meu blog legal), pode parar de ler por aqui, pq não vai ser legal... nem vai te interessar, então é melhor vc arrumar outra coisa pra fazer.

Agora, eu vou falar.

Caralho. Se eu disser que meu pai não faz nada pra mim, vão dizer: ah, ele te dá comida. Se ele não queria dar comida, que não pusesse um filho no mundo. Me fez? Fez porque quis (sim, a gravidez foi planejada), então agora, que me alimente. E que me abrigue até que eu termine a faculdade, porque senão entro MESMO com pedido de pensão alimentícia, e vai ter que pagar. Não vejo a HORA de sumir daqui. Ah, mas vou mesmo. Vou fazer pós na melhor faculdade de Direito de São Paulo, e então, finalmente, eu morarei sozinha. Sim, liberdade.
Aí dizem: ah, morar sozinha é horrível. Morar na minha casa é um pesadelo, sério. Bem pior.
Sim, porque aqui só UMA pessoa manda, não há discussões, não há argumentações. Falou, tá falado. Desde o que vai ter no almoço até eu botar o pé pra fora de casa. E geralmente não adianta opinar. Nunca adianta opinar. Nem opino nada.

Aí eu faço trabalhos pro meu pai, todo mundo sabe.
Eu fiz um há uns três meses, um resumo de mais de 70 páginas sobre Didática. Demorei horas, dias, semanas. De graça! Pra quê? Pra hoje, quando ele foi imprimir o trabalho, me perguntar quais eram as páginas que tinham sei-lá-o-quê porque ele precisava do número. Aí eu disse: fiz isso há três meses e vc espera que eu saiba? Sério? ¬¬
Aí tive que aguentá-lo bufando a tarde toda, reclamando que "é uma merda depender dos outros". Então não dependa, ué!
Alguém já me viu depender de outra pessoa? Se nem dos meus pais, eu posso depender... Aprendi desde cedo que eu não posso contar com ninguém. Que eu tenho que resolver meus problemas e tenho que fazer tudo sozinha. Se tem uma festa? Eu tenho que arrumar carona - quando levo a SORTE de meu pai deixar (eu tenho 18 anos, poha) que eu vá - e ainda tem que ser uma pessoa "confiável". Se eu preciso fazer um trabalho? Não tenho tempo? Se vira, passa a madrugada na frente da tela do pc. Se eu preciso ir a algum lugar e tá chovendo? Pega o guarda-chuva e vai. Então é assim. Eu não posso depender de ninguém, mas os outros podem depender de mim? E eu tenho que fazer tudo? E eu não ganho nada com isso?
Ganho sim. "Como você tirou 6.5 na prova? O que que tá acontecendo com você?" Ah, foi simples. Eu terminei meu namoro na véspera, meu professor é um imbecil que decora livros e espera que a gente também o faça, ele não tem a menor noção de semântica ou interpretação e ele corrigiu três questões de forma errada, para as quais vou ter que fazer uma defesa gigantesca e rezar muito para o deus no qual nem acredito fazer com que aquelas ANTAS da banca entendam o que eu quis dizer e então, quem sabe, lá pelo quarto bimestre, ele altere minha nota. Sim, isso depois que eu fizer a Sub, sábado de manhã.
Que mais que eu ganho? Minha mãe me dizendo que eu não tenho sentimento por ninguém. Talvez eu não tenha mesmo, não pelo meu pai. Não posso nem dizer que o odeio, porque simplesmente o desprezo. Tudo nele me irrita. Eu não suporto mais.
Aí ele chega atrás de mim e diz com aquele tom ríspido que lhe é habitual: é, tem mais um trabalho pra você fazer.
É, eu vou fazer sim, sabe por quê? Porque ele vai passar mais uma semana sem ir à aula (me infernizando aqui em horário integral) e ao invés de fazer o trabalho ele prefere dormir ou assistir filme... Pra quê se preocupar? Eu faço o trabalho, super bem feito. Tiro sempre 10.

Mas esse texto todo nem é pra revoltar não. É pra ter pena. De mim? Não, não. Eu aprendo muito na vida, eu sofro muito e isso me dá uma bagagem que ninguém faz idéia. Se eu parasse pra contar como eu tive que virar adulta com nove anos, ninguém acreditaria. Ou foi antes? Nem sei. Sei que meu anjo da guarda me protege muito, porque eu preciso...
Eu sei que o troco, uma hora, chega. Não desejo mal a ninguém, não.

Ah, outro dia eu fiz um textinho, querem ler? Tá aí:

Desligo o computador e vou até a sala. Pego o livro na mesa, os óculos estavam por cima, mesmo. Sento-me no sofá e leio. Leio até sair desse universo. Leio até viver a vida dos personagens. Leio até me sentir segura. Leio até deixar de estar sozinha.
Olho pro lado. Você chegou sem fazer barulho. Fez o mesmo que eu: pegou o livro na mesa, os óculos estavam por cima. Te olho e você não vê.
Levanto-me do sofá, dobro o edredom que me esquentava, coloco-o no canto. Olho novamente o seu rosto e você, com o rabo de olho, parece me enxergar também. Mas apenas vira a página como quem pede perdão pela frieza que carrega consigo. Como quem apaga a história por não querer mais vivê-la.



Faz um favor? Vira a página.

2 comentários:

  1. Estou achando as pessoas gradativamente!

    Feliz Dia do Amigo

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Carol...que porra de pai escroto...
    Graças a Deus meu pai é óteeemo...
    .
    mas...cada um colhe o que planta né? então logo, ele vai "pagar" por ser assim com vc.
    .
    Pq vc faz os trabalhos dele? ele te obriga? faz mais droga nenhuma não...
    .
    beijão e boa sorte com seu pai..
    =/

    ResponderExcluir