terça-feira, 27 de outubro de 2009

Farpas

Sentada no sofá, o fichário de um lado, o copo de coca do outro, nas mãos o Vade Mecum. Estudava Direito Empresarial, quando cheguei a uma página do código que estava cortadinha, em cima, no meio. Um centímetro. Foi o suficiente. Comecei a me lembrar...


Era início do ano, ele estava de férias ainda, mas eu não. Eu estava deitada num colchão na sala, junto com ele, com dor no corpo, vendo TV. E era assim. Costumávamos passar a tarde ali, absortos na nossa própria insignificância. Como todas as tardes, abraçados, conversando sobre nada. Não posso dizer que era ruim. Não posso negar que o amei, principalmente nesses momentos de pura doação.

Já era quase hora de ele ir embora, era cedo, mas ele tinha que ir... Era tudo tão difícil naquele tempo. Tocou o interfone, chegou o código. Ele me pediu pra ter calma, mas fui logo pegando a faca e abrindo a caixa... Mas a faca acabou pegando no código e aí está a explicação: cortou um centímetro de uma página lá no meio. Oito meses depois, eis aí a página cortada fazendo com que se passe um filme na minha cabeça... Um filme com detalhes, cheiros e cores. Algo que está no passado e não precisa emergir de lá... Posso reviver esses momentos sozinha, deitada naquele mesmo sofá onde tantos momentos passei com ele, e fica melhor assim. Meus olhos miravam o longe, longe demais. Chacoalhei a cabeça, fechei os olhos, mudei o pensamento. Voltei a me concentrar nos artigos... Decidi que era duro demais, então peguei uma barra de chocolate, dizem que alegra. Não me alegrei. Comi compulsivamente enquanto tentava aprender alguma coisa, mas minha mente não sossegava, não me deixava em paz, não me permitia tirar esses pensamentos daqui... A serotonina não surtiu efeito, a paz não voltou, e aqui estou eu escrevendo algo que jamais pensei que seria capaz de escrever. Eu nunca havia me permitido sentir saudades. Eu nunca vou admitir que essas lembranças, que não me doem, não me trazem arrependimentos, não me fazem chorar, são como farpas que eu tirei todas de uma vez do peito, e, de vez em quando, a ferida sangra.

Não me escorre lágrima nenhuma, como deveria acontecer. São só “imagens da minha história”. História é passado, o que já foi, o que não volta. Não quero que volte, só quero ter a calma e a sabedoria para simplesmente me lembrar, e não sofrer com isso. Ainda vai chegar o dia em que conseguirei passar por aqueles caminhos sem que meu coração fique pequeno, sem que meus olhos vejam o que já não está lá, sem que minhas mãos queiram segurar mãos que já não me pertencem, sem que a brisa me faça lembrar que o tempo passa rápido demais, que há sentimentos efêmeros, que pessoas vão e vêm e poucas são as que ficam. Preciso apenas saber que, se aconteceu, valeu a pena.


domingo, 25 de outubro de 2009

Há descaminhos em meus passos...

O ser humano sempre surpreende. Ele inventou o amor, mas também aprendeu a machucar. Superou o orgulho e consegue se doar, mas o egoísmo ainda está lá. Suaves como pétalas de rosas são os movimentos que o homem sabe fazer, mexer as peças como num tabuleiro e brincar com a vida. Não só com a sua.


Alguém conseguiu manipular, armar um circo, comprar palhaços e deixá-los parados na estante. Como se relacionamentos fossem jogos. Como se o sentimento conseguisse entrar e sair de um coração, quando ele quiser.

Armaram um circo e se esqueceram de me avisar que eu não devia acreditar. Disseram palavras bonitas e esperaram respostas, que foram sinceras, não deveriam ter sido... Não deveriam ser verdade, mas foram, e são.

Perdi noites de sono tentando encaixar, tentando me encaixar. As peças não serviram direito, então devem ser jogadas fora. Ficaremos com o que sobra, com o que é bom. Descartar o resto. Esquecer os sorrisos. Jogando com os pensamentos, alguém conseguiu atingir o objetivo. Alguém fingiu estender a mão. Alguém a aceitou. Perceber que era mentira pra quê? Era melhor acreditar. A realidade não é palpável, não é honesta e nem é desejada. É uma ferida aberta. Não queremos cicatrizes, queremos?

Vou deixar que sangre até que o sangue se acabe. Até que o meu amor me convença de que isso está errado. Até que eu consiga sair do navio náufrago, sem querer me afogar, me debato e afundo. Eu não quero sair. Vou afundar em mim e esperar que a lona do circo derreta sob os faróis da ilusão, que iluminam tudo e tão pouco, que traçam o caminho, mas não seguram as minhas mãos. Fiquei sozinha na estrada, sem a luz dos faróis, sem seus olhos e sem sua verdade.

O trajeto está traçado e meu destino, eu quem faço. Adeus.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Motivos.


Essa semana eu recebi um recado no orkut daqueles que eu precisava ter recebido, sabe? Daqueles que a pessoa que te mandou te conhece TANTO, que ela te decifra naqueles versos que ela mandou. Pois é, recebi esse recado e ele dizia, entre outras coisas: "O que está no seu passado, tem motivos para não estar no seu presente".
É verdade, a gente quase nunca se lembra.

No começo, quando estamos descobrindo o amor, cometendo todos aqueles erros imperdoáveis e ainda achamos que o nosso mundo pode se resumir a alguém, temos essa mania de ficar revivendo os momentos bons, quando está tudo péssimo. É, depois daquela briga, você bate a porta do quarto, deita na cama e escuta a "música de vocês". Caem algumas lágrimas pela dor da discussão, das palavras ditas que mereciam permanecer mudas, do vão que se abre entre você e o mundo. Mas, logo em seguida, o que é que se passa na sua cabeça? Os beijos, abraços, as declarações de amor, as flores, aquelas que você guardou no caderno. Pronto, abre-se o caderno. Lá há os poemas, as cartas, as músicas, as flores amareladas pelo tempo... As lembranças também mudam de cor.

Mas e quando o relacionamento acaba? O que está no passado tem motivos pra estar lá, lembre-se. "E mesmo ausente é doce sua falta". O que isso quer dizer? "A saudade é doce".
O que EU quero dizer é que o fim pode não ser salgado. Mas ficar relembrando as coisas de uma forma bonita, só pra fazer parar a dor, não funciona. A dor aumenta. Não adianta florear o passado e perfumá-lo para que ele se apresente mais bonito. O que se precisa ter em mente é que houve momentos lindos, claro. Mas não que eles façam falta... Eles simplesmente pertencem a um tempo que não é mais o presente e nem o futuro. Estão guardados, não podem ser jogados fora. Mas não se pode esquecer de que, se eles estão lá no passado, distante, é porque precisam estar. Sem perfumar as tristezas, a gente vive melhor. Sabendo que elas ficaram pra trás, também... É doce essa ausência, porque nem é mais ausência. É uma saudade mansinha, tranquila, sossegada. É um passado suave com todos os seus erros e acertos, boas e más recordações, sorrisos e lágrimas. Lembrem-se das lágrimas também, quando sentirem o impulso de querer que o passado volte... Mas quando estiverem plenos, permitam-se sorrir ao sabor daquelas lembranças.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sempre que estou indo, volto atrás.


Eu sempre digo que dessa vez não será assim, mas fica sendo. Sabe aquelas promessas que você faz pra você mesmo e não conta pra ninguém? Mesmo porque são ridículas demais para deixar que os outros saibam, e então você fica com vergonha de você quando não consegue controlar. É, eu tenho vergonha de ficar triste assim.
Eu queria ter aqui uma floresta. É, podia ser aquela com o coração na árvore, ou então aquela com o pinguinho na folha. Não importa, tinha que ser uma floresta daquelas em que você se perde. Uma com uma casinha no final do caminho, com vários esconderijos, com tesouro enterrado. Eu me lembro de quando eu ia enterrar aquela fita, aquela foto, aquele anel. Acabei enterrando os abraços, ao invés.
É engraçado fazer piada com os próprios erros. Se achar uma idiota e, algumas semanas depois, fazer, de novo, a mesma coisa. É engraçado não conseguir desistir de quem já desistiu de você.
Mas, sem falar de abandonos, não é? Vamos voltar à floresta. Floresta é bom porque você pode gritar. É, gritar é bom.
Hoje eu quase gritei, mas os gritos saíram pelos olhos...
Fazia tempo que eu não chorava ouvindo Carvão, mas na parte do "me deixe aqui e solte a minha mão", caiu uma lágrima. Essa frase mistura um pesar com resignação e vontade. É, vontade. Me deixa! Me deixa aqui! Aqui é melhor sem você. Sim, é melhor. Solte a minha mão? Eu não queria... Esse vão... Esse vazio... Esse frio sem o calor dos teus dedos, sem seu toque no meu corpo, sem aquele nó. É, solte a minha mão, vai.

O céu nublado de hoje me faz pensar... O tempo fecha e chove. É, aqui chove. Melhor que chova do que guardar tudo isso aqui... Deixa sair, deixa cair, deixa surgir...
Eu não vou fugir, não vou renunciar a essas sensações, mas é que... Me dá uma coisa.
E quando eu estiver de novo desistindo, volto atrás. É, eu volto, porque algo me puxa... Puxa, mas devolve, não quer. Fui devolvida, de novo.


Mas então vai, inventa uma desculpa qualquer, me chama de volta, que eu volto. Eu corro em direção ao abismo e me afogo, e eu vou emergir de novo, não se preocupe. Estarei pronta pra quando você aparecer. Se os teus olhos vão se molhar por mim, minhas mãos vão secá-los. Fica tudo bem, e você volta a errar, e eu volto a ter essa vontade de correr pela floresta até a casinha e ficar, descansar, fugir de você. Vou pra lá, fique aí. Daqui a pouco, grite meu nome. Ou eu que vou querer escutar? De novo? Eu vou escutar, de novo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Entre a aurora e o crepúsculo

Entre a aurora e o crepúsculo

Entre o seu e o meu mundo

Entre os sonhos e os desencontros

Entre os tombos e a sua mão



Ficaram aqueles gritos dados no escuro

Ficou o anel, a foto, o papel

Ficaram sentimentos amassados

Ficou o azul-escuro do céu



Entre a aurora e o crepúsculo

Foram tantos desvarios

Noites tornando-se dias furtivos

Dias que passavam os dias sem sentido



Ficaram as grades daquela prisão

Que você deixou pra trás quando fugiu

Vi pegadas pelo chão

Mas eu não quis segui-las



Foram-se a aurora e o crepúsculo

E ficou essa noite sem estrelas

A tua estrela está apagada

E eu, sem a minha morada

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

... é quando não precisa perguntar.


Duas lágrimas conseguiam encontrar seu caminho no meu rosto já molhado, enquanto um sorriso se formava nos meus lábios secos. Minha boca ainda permanecia aberta, perplexa, como a de uma criança que vive um pesadelo. Meu coração, entretanto, parecia se aquecer, se destituindo da forma petrificada, a qual se prolongava pelas horas de aflição daquele dia, depois dos dias que se seguiram, e semanas... Ele era uma pedra redonda e chata, mas as palavras que me chegavam por uma tela imensa e fria faziam com que minhas mãos parassem de tremer. Meu rosto, contraído, sentia um pouco da leveza dos primeiros pedacinhos de paz que me embrulhavam o casulo. As mãos dela amoldavam a pedra, pois eram capazes de amolecê-la. Ela tinha a receita para acabar com a minha dor, e fazia.


Meus pensamentos ainda estavam revivendo o dia anterior: um momento de leveza de alma, vários sorrisos e depois veio a explosão. O prédio todo era posto abaixo e eu não era mais a espectadora. Eu estava no jogo, e vivendo, e morrendo. Foram muitos açoites e várias janelas quebradas a pedradas. Sentia na pele o rasgo firme e fundo. Mais, sentia-o na alma. Lembro-me apenas de palavras caladas que saíram como um grito incontido. Grito este que jamais deveria ser escutado. Eu não podia tê-lo ouvido, mas as vozes roucas, fortes e graves continuavam a procurar seu caminho até mim. Eu me escondia, tampava os ouvidos, mas nada adiantava. Ninguém podia conter tamanha fúria. E me encontraram. Acabei me perdendo na artilharia confusa, com armas apontando para todos os cantos. Ainda não me encontrei.

Tremendo, tive medo. Escorei na janela para que ninguém me escutasse. Só o céu era testemunha daquela dor imensa, mais ninguém. E eu não queria... Sabia que ninguém seria capaz de me ler nas reticências e eu não podia dizer nada além de meras reticências.

Minha vontade era de gritar até que alguma estrela me ouvisse, mas pensei melhor: mesmo que ela me ouvisse, não desceria do firmamento para me dar um abraço. Nem para oferecê-lo. Decidi, então, recusá-lo primeiro, para não sentir a dor de uma recusa.

Com passos de fé, voltei àquele abrigo do início, que me havia proporcionado sorrisos, mas agora já não havia ninguém lá. Eu era invisível e não conseguia me encontrar... Talvez ninguém quisesse me encontrar. Recostei-me na dureza daquele chão e me deixei ficar. Esperei. Ninguém veio.

Decidi então que era hora de me fingir feliz. Quem me quisesse, me perceberia, mesmo que perdida na farsa de uma alegria inventada. E alguém percebeu. E foi quem me fez sorrir entre duas lágrimas num rosto molhado. Foi quem falou, escutou e acima de tudo: me sentiu. Foi quem não me perguntou, porque não precisava perguntar. Foi quem não aceitou uma resposta mentirosa de que estava tudo bem. Foi quem não se entregou à própria mediocridade e ao egoísmo que assola tudo o que está em volta. Foi alguém que está além das estrelas.

Outras velhas estrelas se cansaram do meu fingimento que, me desculpem, não era bom o suficiente para convencer ninguém. Eu, me desculpem, não soube fingir estar alheia aos escombros ao meu redor, só para fazer alguém sorrir. Eu, me desculpem, prezo somente a amizade daquela que moldou a minha pedra. E se alguém disser o contrário, me desculpem, mas eu não preciso provar que nada disso precisa ser provado.

Ficamos eu e aquela amizade, sozinhas no sereno. Que ela me guie, como sempre faz. Que eu sirva de apoio também a ela, quando precisar. Que as nossas gargalhadas continuem a soar sinceras pelo resto desse túnel inundado por acontecimentos bons e ruins que é a vida... Que a nossa vida permaneça unida sinceramente, por laços reais e não apenas pela culpa de ter que ouvir. Que eu, um dia, consiga lhe agradecer pelas palavras, pelo carinho dispensado a mim em todos os momentos, pela alegria que ela me proporciona por se fazer presente, sempre. Que eu consiga, em algum momento, sentir o amor que ela merece, porque o meu é enorme, mas não é suficiente se comparado à grandeza dessa amizade. Que o resto fique caído ao meu redor, mas que no centro da minha vida eu consiga fazer com que esta única permaneça.

Eu só queria agradecer pela paz, pelo conforto e pelo abraço.


sábado, 10 de outubro de 2009

Me conhecer?


Conhecer alguém pode acontecer em horas de conversa. Cada sentença proferida vai delineando o seu caráter, sua personalidade, sua forma de ver as coisas. Entretanto, o que é isso? Isso não significa nada. De que adianta "conhecer" alguém como é, se ninguém é nada? Nós "estamos" alguma coisa. O estado de espírito de um dia pode ser diferente do dia seguinte. Alguém pode acordar amanhã pensando totalmente diferente a respeito de um assunto qualquer. Alguém pode abrir os olhos ao levar um choque. As pessoas mudam, constantemente. E aí? Conhecer o que ela é, não adianta.
A mim não interessa que conversem horas comigo, me façam rir, chorar, pensar. Tanto faz. Talvez a pessoa tenha me conhecido, mas... Saber como eu sou sem saber por que sou, não faz a menor diferença.
E saber por que sou é, sim, conhecer minha essência. É o que não vai mudar, porque foi moldado pelas marcas do passado, que fazem parte da minha alma. À minha essência, poucos conhecem e, eu conheço a de poucos. Entender o que eu digo é fácil, mas saber "por que eu digo" é que custa horas de atenção e interpretação, o que não ocorre em simples conversas.

Enfim, depois de tudo isso, vou colar aqui meu "quem sou eu" do orkut, porque eu sei que alguma hora eu vou me rebelar e apagar tudo - essa inconstância...


Aí vai:

quem sou eu:


Sou de qualquer jeito, nem tudo eu respeito.


Nunca me definiram tão bem quanto um amigo, que disse que eu como cérebros, e não corpos. Complementa-se com a frase de Fernanda Young: "excitem-se com inteligência!"



Além disso, já falaram do meu jeitinho meiga, que encanta. Minhas palavras de mulher decidida. A forma como eu posso ser uma menininha, mas quando precisa, minha maturidade grita.

Eu “queria ter a carta natal do universo, e ver se entendia alguma coisa”. Eu queria trazer o infinito pra mais perto. Queria controlar meus movimentos. Mas ao invés disso, eu vou aonde eu vento leva, sem me esquecer de manter sempre um pé no chão. Eu tomo cuidado pra não voar muito alto, só chego à altura em que sei que me reerguerei de um possível tombo.

Eu sei prestar atenção das estrelas. Ainda mais quando as vejo num olhar.

Eu sei olhar o mar e esperar que ele me traga o que eu preciso, e sei também que a pressa pode estragar a surpresa. Hoje, já sei andar devagar.

Já cai e levantei tantas vezes, que aprendi a andar na beira do abismo. E o abismo não é tão ruim assim. É bom ver o escuro de lá de dentro, pra me lembrar de como eu sou feliz.

Ter problemas é um acessório da vida. Ela é um ir e vir constante, que, de uma forma inconstante, sempre nos faz enxergar o que estava escondido um segundo atrás. Eu aprendo a cada dia. Nem sempre erro, mas sim, erro muito. Os acertos, geralmente, compensam. Eu cuido dos meus amigos, tenho muito medo de perdê-los, porque aí não me sobra nada.

Sei dizer palavras bonitas, às vezes, mas não são elas que me convencem. E isso é justamente porque sei que mentir é fácil demais. O que você disser, a folha de papel aceita. Mas o coração da pessoa pode não aceitar... Prefiro não dizer do que magoar. “Calar é tático”. Gosto de sorrir, mas só quando for de verdade. Gosto de fugir, de vez em quando, pra me encontrar.

Gosto de me encontrar em alguém.

Gosto de sentir que fiz bem a alguém, que meu conselho ajudou, que um sorriso dele foi graças a mim.

Gosto de escrever, mas não gosto do que escrevo.

E eu toco violão pra espantar os fantasmas.

Observo a noite, quando chove. Fico na janela, olhando o mundo que parou de girar, porque ninguém está vendo.

Eu gosto de gritar porque calar faz mal. Gosto de te fazer saber o que eu sinto. E eu gosto de sentir, amo sentir. Sinto tudo, de bom e de ruim, muito intensamente. Pelo menos, eu não estou só passando pela vida, estou vivendo.

Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana


"(...) não acredite em tudo o que ouve. Nem em tudo o que diz. Suspenda a descrença quando quiser prazer. Não subestime os outros, nem os idolatre demais. Seja educada, mas não certinha. Faça coisas que nunca imaginou antes. Não minta, nem conte toda a verdade. Dance sozinha quando ninguém estiver olhando.

Divirta-se enquanto seu lobo não vem."

Martha Medeiros.



One more thing

Why is it my fault?

So maybe I try too hard

But it's all because of this desire

I just wanna be liked

I just wanna be funny

Looks like the joke's on me

So call me captain backfire ♪

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Degrau por degrau.



Às vezes, no curso de Direito, nós temos aula de Direito e não apenas de Leis - como quase sempre. Hoje foi um desses dias... Logo hoje, depois de me apaixonar por psiquiatria, depois de pegar livros na biblioteca, depois de devorá-los, depois de me fascinar ao conseguir entender um pouquinho de mim e do que me tem acontecido... Logo hoje, minha professora vem e diz: vocês são livres.
Ela nos levou pra fora, porque o Direito não se aprende, necessariamente, entre quatro paredes. A opressão que sentimos na sala de aula, ao sermos obrigados a mantermos o código sempre aberto, fazermos anotações, lembrarmos de súmulas do STF, STJ, leis ordinárias, leis complementares que modificam ou extinguem direitos antigos, modificações que surgiram ontem, coisas inter-relacionadas que, na verdade, só nos confundem mais... É uma pressão sufocante. É a lei seca. Não há Direito ali.
Aquela euforia de começo de curso, de aprender coisas pra vida, não existe mais. Agora, são horas e horas debruçada em livros, na internet, em pesquisas, escrevendo artigos, decorando leis, escrevendo almaços inteiros nas provas, desenvolvendo novos métodos, aumentando a capacidade de raciocínio lógico-jurídico, vivendo situações inventadas como se aqueles fossem os maiores problemas do universo porque eu preciso resolve-los. Preciso descobrir qual é a lei, qual é o artigo, qual é o direito. Nas provas, só vêm problemas que precisam de solução.
Esses fatos que vou supostamente enfrentar na minha carreira estão vindo como a questão principal, como o que é realmente importante. Mas, na verdade, não é.
O ser humano é o importante. Fodam-se as leis que se aplicam a ele. O que importa é "por que" ele vai sofrer as consequências... Mas ainda esse assunto está fora do que eu quero pra mim, agora. Não gosto de ficar filosofando sobre problemas que eu não posso resolver. O que me interessa, nesse curso, sou eu, antes de tudo. O que EU estou fazendo aqui.
Todos os dias, me são apresentadas novas situações problematizadas. Eu vivo para encontrar soluções. Mas me manter nesse mundo de "soluções" não tem dado muito certo. Preciso me concentrar nas bases do edifício, na raiz do problema, no "por que ele surgiu" e não em "como ele poderá ser resolvido". Claro que isso se aplica ao direito, e já estudei exaustivamente esse tipo de aplicação, no ano passado. Mas... Que tal vivenciar o curso? De verdade? Aplicar à minha vida o positivismo - ou não - que eu aprendo lá?
Eu amo a subjetividade... Percebe-se.
Adoro encontrar os caminhos, perceber que há desvios, mas que, mesmo assim, eu me mantive na rota. Entretanto, às vezes é hora de parar e olhar pra mim. Fazer uma balança em que se pesem o passado e o que se espera do futuro, para se saber se esta rota não está em colisão comigo mesma. No caso, se o meu curso não está colidindo com os meus interesses. Ainda agora, não quero entrar na discussão de "este curso é o certo?", mas sim, voltar àquela velha frase do "da Vinci", que ficava num cartaz na minha parede: "A sabedoria da vida não está em fazer o que se gosta, mas em gostar do que se faz". Simples assim.
Eu, hoje, acordei amaldiçoando o fato de ainda ser quinta-feira. Não me lembrei de que aula é uma coisa maravilhosa. Não pensei que, na aula de Direito Empresarial, eu faria uma pergunta que suscitaria discussões o suficiente para uma aula inteira. Não achei que seria possível subjetivizar a este ponto a Personalidade Jurídica. E foi. E meu professor é um gênio... Nos enveredamos por caminhos confusos, doutrinas divergentes, sistema burocrático nacional, a forma como nos manipulam como a ovelhas num pasto, cercadas por todos os lados. É nesses momentos que eu me convenço de que meu curso é maravilhoso. Ele é difícil, complicado, chega a ser penoso, exigente. Me exijo demais, e por isso acabo me destruindo aos poucos... Minha saúde reclama, minhas notas refletem o meu estado emocional... Me derrubam mais ainda.
Decidi que tenho perdido muitas oportunidades de provar que eu não preciso provar nada. Decidi que eu tenho pensado demais, e por isso, não tenho me admitido como um ser humano feliz. Decidi que, se eu gosto de fazer essa roda girar, eu não posso me ater aos resquícios do passado, porque eles ficaram lá e serão lembrados... Mas o presente é bem melhor justamente devido a essa cessão...

São tantas coisas, é o infinito que eu tento pôr no papel. São essas sensações que me fazem acordar de um sonho com o ex, às três da manhã, e não conseguir mais dormir. É tentar refletir demais sobre minhas atitudes antes e depois, é aquele arrependimento que não pertence àquele lugar, àquele momento, mas vem. E eu sei que não há motivos.
Enfim, esse texto ficou muito vago e confuso, tão confusa está minha mente, agora.
Só pra fechar então, vou tentar concluir algo disso:
O curso de Direito se preocupa com as grandes questões humanas, tanto que se trata de ciências humanas. Depois disso, vêm as soluções para os "subproblemas", que surgem desses grandes problemas. O que eu tenho que fazer, sistematicamente, é solucionar as situações fáticas expostas. De tanto procurar e encontrar soluções, as perguntas vão ficando meio sem sentido, e já não me importa respondê-las, mas sim, elaborá-las. É aí que surge a crise existencial: saber quais são as perguntas. Quando eu descubro, as faço, mas não as consigo responder. Então as deixo de lado, e passo a perceber o cotidiano, o que me vem de bom, o quanto eu gosto do que faço e do que pretendo passar a vida toda fazendo. Depois de me entender como um ser humano que gosta de atingir os objetivos que traça, posso traçar outros. Um deles é saber me responder. Esse, provavelmente será eterno... Será aos poucos, devagar, mas nunca atingido plenamente, na essência... E daí vem o infinito e todo esse círculo vicioso do qual eu não saio mais...
E a filosofia que eu odeio? Aí está ela, me encurralando por todos os lados, me mostrando que eu preciso dela e que, me entender, ou tentar fazê-lo, faz parte de me encontrar. E me procuro...


*A foto foi nessa aula de hoje, lá fora, na "Praça do Conhecimento". Estrelando minha calça jeans e meu dedo, que ficou um pouco em cima da câmera, pra disfarçar. HAHA


terça-feira, 6 de outubro de 2009

O que é que fica pra sempre?


“Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora. Eu queria ser trapezista, minha paixão era o trapézio. Me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava-me as mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo, tinha medo de tudo quase: cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo: do que não ficava pra sempre.



Era outra vez outro parque, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou à cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo e eu entrei no meio deles e falei que queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, mas era uma moça forte, era uma moçona mesmo. Me olhou, riu um pouco e disse que era muito difícil mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Polly, veio o Topsy, veio Diderlang, que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público... De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto.Quando eu cansei de ficar olhando pro alto e fui olhar pras pessoas, só aí eu vi que estava sozinho”.
 
 
 
 
Era disso que eu tinha medo: do que não ficava pra sempre.
 
Está na hora de parar de pensar no futuro, que, supostamente, é melhor que "este hoje escuro".
Nós costumamos construir as relações pensando no que ela trará de bom, querendo estar lá quando ela precisar, e saber, ao mesmo tempo, que ela também nos esperará. Mas como ter a certeza?
O que podemos esperar é o que nos foi prometido, nada além disso. A visão que temos ao observarmos à distância uma amizade qualquer, costuma enganar bastante. E acreditar que alguém prometeu a eternidade, o companheirismo, o ouvido, quando, na verdade, não prometeu nada, significa o quê? Essa carência por encontrar alguém... E, ao encontrar, desenhar um deus, uma marionete que dirá o que queremos ouvir.
Será que pode haver amizade sem cobranças?
A admiração, que às vezes ultrapassa fronteiras, também engana por nos fazer pensar que ela é mais.
Esse vão que faz entre minhas mãos porque as suas não querem estar nelas, continuará aqui, esperando. Mas eu também não prometo a eternidade.
Amizade sem promessas é uma amizade sem limites, sem "até onde POSSO ir" ou então "até onde PRECISO chegar".
É te encontrar e precisar contar; é ensurdecer para o resto do mundo, só pra te ouvir. É a vontade doída de dar um abraço, é confiar e dizer, é chorar. É saber quando parar, quando é necessária uma felicidade instantânea e quando devem ser discutidos os grandes problemas. É fazer parte daquela mesma crise existencial em que os pensamentos correm e chegam juntos. É estar junto, mesmo longe, por conexão. É sentir-se como se sente o amigo. É saber, sem que ele conte. É quando ele não precisa contar.
 
E que dure o tempo que durar, que seja bom, que provoque risadas, reflexões e afagos. Que seja breve e louco ou longo e são, mas que seja.
 
Vivemos num mundo canibal onde é cada um por si. Ninguém sabe a importância de um colo até que precise de um. Precisamos de alguém que nos leve a dizer coisas que nem a nós mesmos, admitíamos. Preciso que alguém me leve a pensar, me faça crescer. Que me leve a alçar vôos, mas que me puxe de volta ao chão. Que fale besteira quando eu estiver triste, pra me fazer sorrir, mas que perceba quando esse sorriso não for sincero.
 
Mudam as estações, mudam os colegas, mudam os lugares, mudam as cores das flores. Mas meus amigos? "Quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só de quem me interessa".
 
 
E se não ficar pra sempre?
Não quero cobrar isso de ninguém, quero apenas ser amigo, enquanto for. Estar ali, enquanto eu estiver. Porque as lembranças e todos os sorrisos ficarão guardados, mesmo que as flores já estejam murchas e as cores já tenham mudado. O vão nas minhas mãos voltará, mas em breve será preenchido por outras... Nesse ir e vir sem razão da vida, ficam as pessoas que foram importantes guardadas num cantinho do armário. Queria guardar num frasco, pra poder abrir e sentir o perfume daquela amizade antiga. Já que não posso, paro e sinto, agora. As amizades de hoje, que podem sumir no amanhã incerto, estão sendo bem aproveitadas. Os momentos, bem vividos. Assim, a dor da perda tornar-se-á mais suportável, se for sentida com o coração cheio desses perfumes, bem guardados aqui dentro.
Não preciso mais sentir medo do que não fica pra sempre, se eu conseguir transformar esse presente num momento eterno.

sábado, 3 de outubro de 2009

I need to know... myself.


Bom, vocês sabem. Emprestar o ouvido é coisa que poucos sabem fazer. E eu fico nessa melancolia, imersa nas lembranças, porque, do presente mesmo, não sobra muito... Eu penso em tudo o que conquistei e perdi, tão rápido e tão fácil. Como veio, foi.
Eu tinha 14 anos e ele 18. E me apaixonei. E a nossa música era “Por Enquanto” porque era um trato implícito... E, um dia, eu escrevi: “quando penso em alguém...” e entrei no MSN, subiu minha janelinha. Logo em seguida, subiu a dele com: “só penso em vc...” e eu me lembro como se fosse hoje. Aquela sensação, o coração batendo rápido, o corpo todo fora do meu controle, as mãos tremendo ao digitar, a voz meio rouca porque não queria sair, aquela ansiedade, instabilidade, a incerteza e os joguinhos de sedução...
Aí está a definição: um turbilhão de emoções que me faz querer estar viva, me sentir viva. É uma mistura de vontade, paixão, o desejo pelo movimento, a loucura e sentir o descontrole me levar, me deixar levar por ele... Eu quero abrir a janela, inspirar a doçura e poder sair, ir até lá, tocar o ar com as mãos como se o tempo fosse meu, o destino fosse meu, como se eu pudesse girar essa roda imensa de todas as relações, tomar o mundo nas mãos e sentir, me deixar sentir, gozar ao sabor da magia que esse sentimento causa. Sim, é uma mágica e é inexplicável... É algo que eu nunca vi.

Hoje, eu me sinto indecisa. Eu vejo todos os erros e olho ao meu redor... Não há nada aqui... E eu não quero nada mais. Tudo o que eu desejo, está ao meu alcance. Algumas coisas vão demorar mais, outras eu atinjo em minutos... Mas fica faltando me conhecer, decidir o meu querer. Saber o que é que eu penso, realmente... E as conversas aprofundadas ficam a cada vez mais rasas. Eu não tenho muito com quem conversar. Claro, para cada aspecto da minha vida, meu cotidiano, minha personalidade, eu conheço alguém que combina, que dá certo... Mas eu tenho estado com preguiça de discutir, de saber mais de mim...
Me percebi em alguns momentos de intensa felicidade sem sentido. Notei que quando eu precisar, alguém estará lá... Eu não preciso esmolar. Essa necessidade de alguém sempre ao meu lado está sendo suprida por pensamentos, poemas, filosofias, amizades. Eu finalmente encontrei um caminho que me leva a mim mesma, mas às vezes me sinto aprisionada... Não consigo dizer, meus segredos permanecem guardados... Todo ser humano tem segredos, mas é tão bom poder contar! Semear por aí a minha confiança tem sido um exercício, e tem dado certo...

Agora eu preciso me concentrar em descobrir até que ponto vão as influências e, depois disso, onde começa o que o mundo tem me ensinado, o que a minha maturidade tem me permitido aprender e onde minha idade me deixou chegar. Há algum tempo eu aprendi a observar mais as pessoas, falar menos, escutar muito e me fazer presente a quem quer que precise. Tenho melhorado como pessoa, me doado mais, até a quem não mereceu. A quem não sabe retribuir, ainda assim eu estou aqui, porque sou eu que também cresço.
Ouvi algumas opiniões recriminadoras, algumas críticas, alguns empurrões e outros puxões de orelha. Saí dessa minha crise existencial – já estava na hora. Tantas existências por aí tão mais complicadas que a minha... Eu estou bem, estou tranquila e agora só preciso de calma pra saber por onde seguir... As trilhas estão todas prontas, tenho recebido muitos conselhos e só cabe a mim escolher. É difícil mudar uma vida toda ou permanecer nessa prisão, mas preciso optar. Não quero me arrepender do que não fiz... Eu vou aproveitar minha pouca idade para cometer todos os erros que só me são permitidos agora. E que sejam erros ou acertos, que venham de qualquer forma, que me ensinem, que me cresçam, que me transformem, melhorem ou piorem, que me façam ver. Eu quero ver, só isso. Eu preciso ver. E tirar esse vazio de mim.