segunda-feira, 12 de outubro de 2009

... é quando não precisa perguntar.


Duas lágrimas conseguiam encontrar seu caminho no meu rosto já molhado, enquanto um sorriso se formava nos meus lábios secos. Minha boca ainda permanecia aberta, perplexa, como a de uma criança que vive um pesadelo. Meu coração, entretanto, parecia se aquecer, se destituindo da forma petrificada, a qual se prolongava pelas horas de aflição daquele dia, depois dos dias que se seguiram, e semanas... Ele era uma pedra redonda e chata, mas as palavras que me chegavam por uma tela imensa e fria faziam com que minhas mãos parassem de tremer. Meu rosto, contraído, sentia um pouco da leveza dos primeiros pedacinhos de paz que me embrulhavam o casulo. As mãos dela amoldavam a pedra, pois eram capazes de amolecê-la. Ela tinha a receita para acabar com a minha dor, e fazia.


Meus pensamentos ainda estavam revivendo o dia anterior: um momento de leveza de alma, vários sorrisos e depois veio a explosão. O prédio todo era posto abaixo e eu não era mais a espectadora. Eu estava no jogo, e vivendo, e morrendo. Foram muitos açoites e várias janelas quebradas a pedradas. Sentia na pele o rasgo firme e fundo. Mais, sentia-o na alma. Lembro-me apenas de palavras caladas que saíram como um grito incontido. Grito este que jamais deveria ser escutado. Eu não podia tê-lo ouvido, mas as vozes roucas, fortes e graves continuavam a procurar seu caminho até mim. Eu me escondia, tampava os ouvidos, mas nada adiantava. Ninguém podia conter tamanha fúria. E me encontraram. Acabei me perdendo na artilharia confusa, com armas apontando para todos os cantos. Ainda não me encontrei.

Tremendo, tive medo. Escorei na janela para que ninguém me escutasse. Só o céu era testemunha daquela dor imensa, mais ninguém. E eu não queria... Sabia que ninguém seria capaz de me ler nas reticências e eu não podia dizer nada além de meras reticências.

Minha vontade era de gritar até que alguma estrela me ouvisse, mas pensei melhor: mesmo que ela me ouvisse, não desceria do firmamento para me dar um abraço. Nem para oferecê-lo. Decidi, então, recusá-lo primeiro, para não sentir a dor de uma recusa.

Com passos de fé, voltei àquele abrigo do início, que me havia proporcionado sorrisos, mas agora já não havia ninguém lá. Eu era invisível e não conseguia me encontrar... Talvez ninguém quisesse me encontrar. Recostei-me na dureza daquele chão e me deixei ficar. Esperei. Ninguém veio.

Decidi então que era hora de me fingir feliz. Quem me quisesse, me perceberia, mesmo que perdida na farsa de uma alegria inventada. E alguém percebeu. E foi quem me fez sorrir entre duas lágrimas num rosto molhado. Foi quem falou, escutou e acima de tudo: me sentiu. Foi quem não me perguntou, porque não precisava perguntar. Foi quem não aceitou uma resposta mentirosa de que estava tudo bem. Foi quem não se entregou à própria mediocridade e ao egoísmo que assola tudo o que está em volta. Foi alguém que está além das estrelas.

Outras velhas estrelas se cansaram do meu fingimento que, me desculpem, não era bom o suficiente para convencer ninguém. Eu, me desculpem, não soube fingir estar alheia aos escombros ao meu redor, só para fazer alguém sorrir. Eu, me desculpem, prezo somente a amizade daquela que moldou a minha pedra. E se alguém disser o contrário, me desculpem, mas eu não preciso provar que nada disso precisa ser provado.

Ficamos eu e aquela amizade, sozinhas no sereno. Que ela me guie, como sempre faz. Que eu sirva de apoio também a ela, quando precisar. Que as nossas gargalhadas continuem a soar sinceras pelo resto desse túnel inundado por acontecimentos bons e ruins que é a vida... Que a nossa vida permaneça unida sinceramente, por laços reais e não apenas pela culpa de ter que ouvir. Que eu, um dia, consiga lhe agradecer pelas palavras, pelo carinho dispensado a mim em todos os momentos, pela alegria que ela me proporciona por se fazer presente, sempre. Que eu consiga, em algum momento, sentir o amor que ela merece, porque o meu é enorme, mas não é suficiente se comparado à grandeza dessa amizade. Que o resto fique caído ao meu redor, mas que no centro da minha vida eu consiga fazer com que esta única permaneça.

Eu só queria agradecer pela paz, pelo conforto e pelo abraço.


Um comentário:

  1. Own... minha linda, minha florzinha, minha irmã...
    A gente conhece as pessoas pelo sentimento que elas carregam nas palavras. Quando se conhece alguém, não o tom de voz, mas o teor e o peso do que se diz é o que nos mostra todo o escuro de dentro do peito.
    Eu amo você, e se você deixar, vou carregar sempre uma lanterininha pra te iluminar os dias cinza.
    Um beijo com uma saudade sem fim do que ainda não abracei!

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