Duas lágrimas conseguiam encontrar seu caminho no meu rosto já molhado, enquanto um sorriso se formava nos meus lábios secos. Minha boca ainda permanecia aberta, perplexa, como a de uma criança que vive um pesadelo. Meu coração, entretanto, parecia se aquecer, se destituindo da forma petrificada, a qual se prolongava pelas horas de aflição daquele dia, depois dos dias que se seguiram, e semanas... Ele era uma pedra redonda e chata, mas as palavras que me chegavam por uma tela imensa e fria faziam com que minhas mãos parassem de tremer. Meu rosto, contraído, sentia um pouco da leveza dos primeiros pedacinhos de paz que me embrulhavam o casulo. As mãos dela amoldavam a pedra, pois eram capazes de amolecê-la. Ela tinha a receita para acabar com a minha dor, e fazia.
Meus pensamentos ainda estavam revivendo o dia anterior: um momento de leveza de alma, vários sorrisos e depois veio a explosão. O prédio todo era posto abaixo e eu não era mais a espectadora. Eu estava no jogo, e vivendo, e morrendo. Foram muitos açoites e várias janelas quebradas a pedradas. Sentia na pele o rasgo firme e fundo. Mais, sentia-o na alma. Lembro-me apenas de palavras caladas que saíram como um grito incontido. Grito este que jamais deveria ser escutado. Eu não podia tê-lo ouvido, mas as vozes roucas, fortes e graves continuavam a procurar seu caminho até mim. Eu me escondia, tampava os ouvidos, mas nada adiantava. Ninguém podia conter tamanha fúria. E me encontraram. Acabei me perdendo na artilharia confusa, com armas apontando para todos os cantos. Ainda não me encontrei.
Tremendo, tive medo. Escorei na janela para que ninguém me escutasse. Só o céu era testemunha daquela dor imensa, mais ninguém. E eu não queria... Sabia que ninguém seria capaz de me ler nas reticências e eu não podia dizer nada além de meras reticências.
Minha vontade era de gritar até que alguma estrela me ouvisse, mas pensei melhor: mesmo que ela me ouvisse, não desceria do firmamento para me dar um abraço. Nem para oferecê-lo. Decidi, então, recusá-lo primeiro, para não sentir a dor de uma recusa.
Com passos de fé, voltei àquele abrigo do início, que me havia proporcionado sorrisos, mas agora já não havia ninguém lá. Eu era invisível e não conseguia me encontrar... Talvez ninguém quisesse me encontrar. Recostei-me na dureza daquele chão e me deixei ficar. Esperei. Ninguém veio.
Decidi então que era hora de me fingir feliz. Quem me quisesse, me perceberia, mesmo que perdida na farsa de uma alegria inventada. E alguém percebeu. E foi quem me fez sorrir entre duas lágrimas num rosto molhado. Foi quem falou, escutou e acima de tudo: me sentiu. Foi quem não me perguntou, porque não precisava perguntar. Foi quem não aceitou uma resposta mentirosa de que estava tudo bem. Foi quem não se entregou à própria mediocridade e ao egoísmo que assola tudo o que está em volta. Foi alguém que está além das estrelas.
Outras velhas estrelas se cansaram do meu fingimento que, me desculpem, não era bom o suficiente para convencer ninguém. Eu, me desculpem, não soube fingir estar alheia aos escombros ao meu redor, só para fazer alguém sorrir. Eu, me desculpem, prezo somente a amizade daquela que moldou a minha pedra. E se alguém disser o contrário, me desculpem, mas eu não preciso provar que nada disso precisa ser provado.
Ficamos eu e aquela amizade, sozinhas no sereno. Que ela me guie, como sempre faz. Que eu sirva de apoio também a ela, quando precisar. Que as nossas gargalhadas continuem a soar sinceras pelo resto desse túnel inundado por acontecimentos bons e ruins que é a vida... Que a nossa vida permaneça unida sinceramente, por laços reais e não apenas pela culpa de ter que ouvir. Que eu, um dia, consiga lhe agradecer pelas palavras, pelo carinho dispensado a mim em todos os momentos, pela alegria que ela me proporciona por se fazer presente, sempre. Que eu consiga, em algum momento, sentir o amor que ela merece, porque o meu é enorme, mas não é suficiente se comparado à grandeza dessa amizade. Que o resto fique caído ao meu redor, mas que no centro da minha vida eu consiga fazer com que esta única permaneça.
Eu só queria agradecer pela paz, pelo conforto e pelo abraço.
Own... minha linda, minha florzinha, minha irmã...
ResponderExcluirA gente conhece as pessoas pelo sentimento que elas carregam nas palavras. Quando se conhece alguém, não o tom de voz, mas o teor e o peso do que se diz é o que nos mostra todo o escuro de dentro do peito.
Eu amo você, e se você deixar, vou carregar sempre uma lanterininha pra te iluminar os dias cinza.
Um beijo com uma saudade sem fim do que ainda não abracei!