quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Degrau por degrau.



Às vezes, no curso de Direito, nós temos aula de Direito e não apenas de Leis - como quase sempre. Hoje foi um desses dias... Logo hoje, depois de me apaixonar por psiquiatria, depois de pegar livros na biblioteca, depois de devorá-los, depois de me fascinar ao conseguir entender um pouquinho de mim e do que me tem acontecido... Logo hoje, minha professora vem e diz: vocês são livres.
Ela nos levou pra fora, porque o Direito não se aprende, necessariamente, entre quatro paredes. A opressão que sentimos na sala de aula, ao sermos obrigados a mantermos o código sempre aberto, fazermos anotações, lembrarmos de súmulas do STF, STJ, leis ordinárias, leis complementares que modificam ou extinguem direitos antigos, modificações que surgiram ontem, coisas inter-relacionadas que, na verdade, só nos confundem mais... É uma pressão sufocante. É a lei seca. Não há Direito ali.
Aquela euforia de começo de curso, de aprender coisas pra vida, não existe mais. Agora, são horas e horas debruçada em livros, na internet, em pesquisas, escrevendo artigos, decorando leis, escrevendo almaços inteiros nas provas, desenvolvendo novos métodos, aumentando a capacidade de raciocínio lógico-jurídico, vivendo situações inventadas como se aqueles fossem os maiores problemas do universo porque eu preciso resolve-los. Preciso descobrir qual é a lei, qual é o artigo, qual é o direito. Nas provas, só vêm problemas que precisam de solução.
Esses fatos que vou supostamente enfrentar na minha carreira estão vindo como a questão principal, como o que é realmente importante. Mas, na verdade, não é.
O ser humano é o importante. Fodam-se as leis que se aplicam a ele. O que importa é "por que" ele vai sofrer as consequências... Mas ainda esse assunto está fora do que eu quero pra mim, agora. Não gosto de ficar filosofando sobre problemas que eu não posso resolver. O que me interessa, nesse curso, sou eu, antes de tudo. O que EU estou fazendo aqui.
Todos os dias, me são apresentadas novas situações problematizadas. Eu vivo para encontrar soluções. Mas me manter nesse mundo de "soluções" não tem dado muito certo. Preciso me concentrar nas bases do edifício, na raiz do problema, no "por que ele surgiu" e não em "como ele poderá ser resolvido". Claro que isso se aplica ao direito, e já estudei exaustivamente esse tipo de aplicação, no ano passado. Mas... Que tal vivenciar o curso? De verdade? Aplicar à minha vida o positivismo - ou não - que eu aprendo lá?
Eu amo a subjetividade... Percebe-se.
Adoro encontrar os caminhos, perceber que há desvios, mas que, mesmo assim, eu me mantive na rota. Entretanto, às vezes é hora de parar e olhar pra mim. Fazer uma balança em que se pesem o passado e o que se espera do futuro, para se saber se esta rota não está em colisão comigo mesma. No caso, se o meu curso não está colidindo com os meus interesses. Ainda agora, não quero entrar na discussão de "este curso é o certo?", mas sim, voltar àquela velha frase do "da Vinci", que ficava num cartaz na minha parede: "A sabedoria da vida não está em fazer o que se gosta, mas em gostar do que se faz". Simples assim.
Eu, hoje, acordei amaldiçoando o fato de ainda ser quinta-feira. Não me lembrei de que aula é uma coisa maravilhosa. Não pensei que, na aula de Direito Empresarial, eu faria uma pergunta que suscitaria discussões o suficiente para uma aula inteira. Não achei que seria possível subjetivizar a este ponto a Personalidade Jurídica. E foi. E meu professor é um gênio... Nos enveredamos por caminhos confusos, doutrinas divergentes, sistema burocrático nacional, a forma como nos manipulam como a ovelhas num pasto, cercadas por todos os lados. É nesses momentos que eu me convenço de que meu curso é maravilhoso. Ele é difícil, complicado, chega a ser penoso, exigente. Me exijo demais, e por isso acabo me destruindo aos poucos... Minha saúde reclama, minhas notas refletem o meu estado emocional... Me derrubam mais ainda.
Decidi que tenho perdido muitas oportunidades de provar que eu não preciso provar nada. Decidi que eu tenho pensado demais, e por isso, não tenho me admitido como um ser humano feliz. Decidi que, se eu gosto de fazer essa roda girar, eu não posso me ater aos resquícios do passado, porque eles ficaram lá e serão lembrados... Mas o presente é bem melhor justamente devido a essa cessão...

São tantas coisas, é o infinito que eu tento pôr no papel. São essas sensações que me fazem acordar de um sonho com o ex, às três da manhã, e não conseguir mais dormir. É tentar refletir demais sobre minhas atitudes antes e depois, é aquele arrependimento que não pertence àquele lugar, àquele momento, mas vem. E eu sei que não há motivos.
Enfim, esse texto ficou muito vago e confuso, tão confusa está minha mente, agora.
Só pra fechar então, vou tentar concluir algo disso:
O curso de Direito se preocupa com as grandes questões humanas, tanto que se trata de ciências humanas. Depois disso, vêm as soluções para os "subproblemas", que surgem desses grandes problemas. O que eu tenho que fazer, sistematicamente, é solucionar as situações fáticas expostas. De tanto procurar e encontrar soluções, as perguntas vão ficando meio sem sentido, e já não me importa respondê-las, mas sim, elaborá-las. É aí que surge a crise existencial: saber quais são as perguntas. Quando eu descubro, as faço, mas não as consigo responder. Então as deixo de lado, e passo a perceber o cotidiano, o que me vem de bom, o quanto eu gosto do que faço e do que pretendo passar a vida toda fazendo. Depois de me entender como um ser humano que gosta de atingir os objetivos que traça, posso traçar outros. Um deles é saber me responder. Esse, provavelmente será eterno... Será aos poucos, devagar, mas nunca atingido plenamente, na essência... E daí vem o infinito e todo esse círculo vicioso do qual eu não saio mais...
E a filosofia que eu odeio? Aí está ela, me encurralando por todos os lados, me mostrando que eu preciso dela e que, me entender, ou tentar fazê-lo, faz parte de me encontrar. E me procuro...


*A foto foi nessa aula de hoje, lá fora, na "Praça do Conhecimento". Estrelando minha calça jeans e meu dedo, que ficou um pouco em cima da câmera, pra disfarçar. HAHA


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