terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sentimentos guardados em caixinhas.

Dia desses, eu havia escrito aqui no blog um texto sobre caixinhas com lembranças. Enfim, ele diz que eu abri a caixinha e encontrei lá flores secas, fotos rasgadas, pedaços de passado. Mas este texto foi apenas simbólico. Eu ainda não havia encontrado a coragem necessária para abrir a caixinha de verdade.

Hoje, já pela manhã, descobri que teria um bom tempo para mim. Acordara cedo para assistir a uma entrevista qualquer na televisão e, desacostumada com o silêncio da manhã – ultimamente tenho passado esse tempo dormindo – fiquei sem saber o que fazer.

Acabada a entrevista curtíssima que me fez amaldiçoar a propaganda enganosa e, além de tudo, me concedeu mais tempo sozinha do que eu esperava, decidi permanecer em frente à tv e coloquei um dvd de música qualquer. O primeiro da estante. O “Multishow Registro da Ana”. Não consegui olhar mais de dois minutos pra tela. Só deu tempo de ver a Betha cantando AQUELA música, que me traz tantas coisas. Abaixei os olhos e me vi no reflexo do vidro da estante. Durante a infância, adolescência, nos momentos de tédio, aquele vidro sempre me mostrava uma garotinha tímida, pensativa, com tantos desejos que não deixavam a tarde ser mais azul. Hoje, ele me mostrou alguém que precisava de uns minutos consigo. Levantei-me e desliguei a televisão. Não fazia sentido ficar vendo aquelas imagens, ouvindo aquelas músicas... Nada mais faz sentido quando se trata de AC. Mas enfim... Voltei para o sofá, deitada novamente, olhando para o teto, dessa vez. Janelas fechadas, porque eu não quero aparecer. Nem pra mim.

Vivendo essa cena melancólica, sem nenhuma oportunidade de escolha, tive que começar a pensar. Reavaliar. Pensei que talvez eu devesse chorar. “É preciso a chuva para florir”. Sentia meu coração apertado, de novo, mas cheio, inundado. Era como se estivesse gritando por socorro, para que eu tirasse daqui de dentro os entulhos... Ele estava carregando coisas demais, mais do que poderia suportar. Mais do que eu conseguia suportar. Era hora de arrumar as gavetas.

Uma lágrima caiu quando eu pensei no que aconteceu. Uma vida apareceu, e mudou a minha. Fez com que eu me arrependesse de momentos felizes, só porque a saudade que veio depois era absurda demais. Saudade – decepção – saudade. E nem estou falando do namoro que eu terminei, porque, das coisas que me aconteceram em 2009, essa foi a menos importante.

Depois, pensei sobre como eu surgi na vida de alguém, e a alterei. Não sei por que eu fui surgir na dele, mas sei por que ele surgiu na minha. Ele, pra me fazer feliz. Eu não sei, mas acabei desarrumando tudo o que estava certo. Sinto, às vezes, o peso do meu egoísmo. Eu não consigo desaparecer para que as coisas voltem ao seu lugar. Cansada de confrontar essa minha impotência, saí do sofá, para deixar os pensamentos por lá. Resolvi, então, abrir de uma vez aquela caixa.

Não encontrei as flores secas, pois há muito eu as havia transferido para um outro potinho, o qual atirei ao lixo por não significar mais nada para mim. Fotos rasgadas, também não. Elas já estavam num álbum, que eu também ainda não tive coragem de abrir... E nem rasgadas ainda estão, pelo menos não fisicamente. Encontrei mesmo foram outras coisas. Lembranças de dez anos atrás, até hoje. Nenhuma delas apertou mais o meu coração do que as de amigos. As de amores, paixões, ou o que quer que tenham sido, traziam consigo apenas uma leve nostalgia, um cheiro de erro, um fim pra nunca mais. Já os amigos, ah... Se ficaram para trás, foram as circunstâncias. Ou então por erro meu, ou deles.

A primeira lembrança, mais antiga, é uma pulseirinha rosa escrito FRIEND, que a Paola me deu. Foi em 2000. Essa eu perdi pelas circunstâncias. Perdidas entre as centenas de papéis estavam cartas. Algumas que eu recebi, outras, que eu não mandei. Reli todas. Mais uma lágrima. Em uma carta que eu havia escrito, pegado na mão, mas não conseguira entregar, encontrei tanta verdade... Como eu poderia saber de tudo aquilo? Ela poderia ter sido escrita hoje, agora que eu já sei, e ainda estaria perfeitamente real.

Além dos papéis, caixinhas, conchinhas, chaveiros, cartões, uma pulseira (aquelas da Jade, lembra? Haha) quebrada, que a Erika me deu na quinta série, o certificado da crisma, o coração que eu roubei da decoração de uma festa, enfim... Muitas coisas. O que me deixou triste foi não ter lembrado de algumas delas. Eram embalagens de presente, pacotinhos de bala, adesivos que alguém me deu. Procurei em todas as paredes da memória, mas não consegui. Outra lágrima, porque se eu coloquei esses objetos lá, é porque achei que me lembraria pra sempre, e não lembrei. Tenho medo de esquecer. Eu poderia esquecer momentos, mas não os sentimentos... E de alguns, me esqueci.

De coisas absurdas, entretanto, me lembro. Um copo de plástico cortado em franjinhas e pintado com caneta bic. Lembro-me que isso foi num congresso, na faculdade, uma noite dessas. O Wesley fez pra mim. 2008. Eu lembrei. Ele? Nossa amizade? Vítima das circunstâncias.

E assim foram tantas outras recordações revividas na minha cabeça. As sombras de um passado que me fez tão feliz, tão triste. Que foi meu professor e ainda é. Mas não me impede de errar... A diferença é que, agora, eu erro sabendo. Mas sei também que se esses erros de hoje me fazem sorrir à toa, andando na rua, quando eu leio um nome na calçada e me lembro, é porque valem a pena serem vividos, e errados, e mesmo que venha depois o choro, a decepção, o lamento, eu sei que não virá o arrependimento.


Um comentário:

  1. como vc conseguiu escrever tanto num fim/começo d ano estando na praia? X.x

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