sábado, 9 de janeiro de 2010

A Corrida.

Hoje eu vou escrever um texto sem estilo, meio que sem objetivo, sem ordem, sem começo meio e fim. Serão, na verdade, várias palavras entulhadas, que eu preciso que saiam de mim.
Então eu saí do computador porque eu precisava sair. Uma gota ou outra caía, e ultimamente eu não tenho me importado com a chuva. Ela impede que os outros, na rua, vejam as lágrimas.
Pra quem não sabe, eu moro NA FRENTE do cemitério, então basicamente pra qualquer lugar que eu vá, passo por ele. Estava eu então indo para o bosque correr, que é o que eu faço quando a vontade de explodir é muito grande, e passei na frente de uma capela que tem ali. Era bem a hora em que levariam o caixão para o cemitério. Expressões tristes, as crianças achando tudo aquilo estranho e engraçado, os jovens amaldiçoando terem perdido o sábado e, dos poucos que ainda se importavam com o motivo real pelo qual estavam lá, uns conversavam animados com os parentes de longe, que nunca viam, e outros choravam desconsolados. Dez passos a frente, uma floricultura. O contraste entre as matizes de cinza da morte e as centenas de cores das flores me surrupiou alguns segundos de pensamento.
Continuando o caminho, já quase chegando no bosque, um cara de uns vinte anos sentado na calçada. Eu procuro nem olhar porque né? Enfim. “Nossa, que delícia”. É o que eu tenho que ouvir quando o meu mundo ta caindo na minha cabeça. Adoro ¬¬. Dois passos depois, um fiu fiu de alguém que eu sequer me virei pra ver. Finalmente cheguei e resolvi que ia correr o mais que podia. Sempre via os “verdadeiros atletas” correndo naquela subida super íngreme e resolvi que hoje era o dia de tentar. Eram pouco mais de um quilômetro, que eu sabia que pareceriam uns três. É assim comigo, tudo é três vezes mais difícil, mais sofrido, pior do que é com os outros. Mas aí eu olhei para o chão ao invés de olhar para o fim da subida. Um pé, depois o outro. Achei melhor assim, talvez chegasse mais rápido. Pensei que talvez fosse mesmo assim, abrir os olhos de manhã e pretender apenas aquele dia e nada mais. Planejá-lo e somente ele, esperar tudo, mas somente dele, querer tudo o que se pode conseguir, mas somente nele. Quem sabe assim a espera pareça mais curta.
Enquanto eu pensava nisso, comecei a montar esse texto na minha cabeça. Claro que os pensamentos saíam confusos pelo cansaço e é óbvio que eu não vou me lembrar de tudo o que quis escrever, mas foi mais ou menos assim. Eu consegui terminar a subida, e minhas pernas ainda estavam ótimas. Ofegante, mantive o ritmo. Não é tão difícil assim.
Quanto consegui retomar o fôlego – quase um quilômetro depois porque eu estava andando rápido demais, o que não ajudava – voltei a correr. Depois de uns 800 metros, quando parei de novo, meu coração doeu. Parecia que estava tendo um ataque, talvez eu fosse mesmo morrer. Pensei no poema do Vinícius “E de te amar assim, muito e amiúde, é que um dia em teu corpo de repente hei de morrer de amar mais do que pude”. Eu sei, nada a ver, mas foi o pensamento que eu tive quando me veio à mente a morte. Desse poema, pulei pra um outro que eu decorei essa semana: As sem-razões do amor, do Drummond. É bonito, e real. Eu o recitei, na cabeça. De “sem-razões” que remete a “cem razões”, voltei a pensar em “Cálice”, “cale-se”, que a Pitty regravou. Eu passei a tarde tendo ataques histéricos com isso. Ridículo. Mas enfim.
Eis que eu não morri do coração, porque talvez ele tenha se acalmado com um poema que fale dele. Corri mais um pouco, até o fim. Pensei que talvez o corpo consiga mais do que pensa, quando a cabeça manda. Mas a alma se fere muito mais facilmente que o corpo, e essa, eu não sei até quando agüenta. Acabou o percurso e eu já atravessei a rua, porque o idiota da cantada ridícula ainda estava lá sentado na calçada. Evitei ouvir mais imbecilidades e fui rápido pra casa, porque olhei para os meus braços e eles estavam totalmente cheios de pequenas bolhas, de novo. Pensei que talvez eu devesse ir direto para o hospital, mas depois... O que me importa? Quem se importa? Eu não. Portanto...
Enfim, cheguei, tomei banho, pensando que talvez eu devesse sair hoje. Logo que terminei, de toalhas ainda, o celular tocou. Eu disse que sim, depois não. É, vou ficar em casa vendo filme e comendo pipoca de microondas porque a cota de chocolate e sorvete de hoje já está mais do que esgotada.
Sentei-me logo na cama para tentar me lembrar com o máximo de detalhes o texto que eu inventei durante a corrida, e até que consegui. A única conclusão que eu tirei é que eu não consegui fugir de mim, nem dos meus sentimentos. As bolhas ainda cobrem meu corpo todo, mas eu não vou ao hospital não, e fim. Não quero saber =). Eu nem sei se ainda vale a pena ser imortal.

Um comentário:

  1. vc tbm não ta esperando ansiosamente que Deus te leve para o céu, nehh?!
    ainda temos q sair um dia a noite..

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