sábado, 5 de setembro de 2009

Somos tudo que vamos perder...

Peguei as chaves do carro, que estavam jogadas sobre a mesa, e bati a porta. Saí do mesmo jeito que entrei. Sem olhar para os lados, sem enxergar nada do que estava ali. Eu não queria ver.
Dirigi sem direção, mas qualquer caminho que eu tomasse lembrava o teu. Nós já passamos por aquela rua, reparamos naquela árvore, você roubou uma rosa daquela roseira, aquele cachorro latiu quando a gente passou. A escuridão era absoluta, mas as imagens me vinham como um clarão. O sol estava no céu da última vez que segui por aquelas ruas. Agora, não está mais. É de noite, mas nada ilumina meus passos. É, eu saí do carro, me senti presa, sufocada. Queria passar com os próprios pés pelos lugares onde nossos pés haviam passado juntos, cena que não mais se repetiria. Respirei fundo, em busca do ar gelado que só a noite traz, mas ele não me veio. Talvez até tenha vindo, mas eu não senti, porque ele não foi capaz de me curar.
Sentei-me naquele meio-fio onde nós nos despedíamos tantos anos atrás, no começo, quando tudo era difícil e não tínhamos escolha. Havíamos andado tantas vezes por aquelas calçadas, deixamos nossa história lá, como crianças que escreveram de giz seus nomes, dentro de um coração, e a chuva apagou, sem deixar vestígios daquela tarde.
Fixei meu olhar num muro branco que havia ali. Lembrei de todos os abraços, os beijos doces, outros quentes. Lembrei de ser apertada contra a parede pelo teu corpo. Pensei naquela promessa de que seus braços jamais me deixariam desamparada, de que sua boca jamais se descolaria da minha, de que seus olhos seriam sempre meus. Eu conseguia enxergar aquelas cenas, reviver vários momentos, ter a sensação de que tudo estava acontecendo agora. Mas não estava, não havia ninguém ali. Nós não estávamos mais lá, e nem em lugar nenhum. Eu me perdi de você, me perdi dentro de mim.
Agora, seus olhos não são mais meus. Seus braços envolvem outro alguém, a quem você diz as mesmas mentiras sinceras que você tanto queria que fossem verdade. Não serão mais. Suas palavras só soaram sinceras da primeira vez, quando ditas para mim. Ninguém mais vai te ter puro, eu tive.
Talvez esse tenha sido nosso maior erro, que há tempos eu havia previsto. Inocentes, imaturos e virgens demais. Era o olhar sincero de quem não sabia o que era amar. De quem jogava jogos de amor, sem saber que provocava sofrimento. De quem não sabia explicar, ouvir e nem entender. De quem lutou contra a correnteza até o último momento, para se afogar sem direito a um último suspiro, sem o teu alento, sem um cobertor na noite fria. Não era para ser uma luta, mas foi. E acabou. Eu venci, ou você venceu? Acho que saímos todos perdendo, mas também ganhando.
Quero me sentir de novo aquela adolescente que vive num barquinho, no meio do mar, durante as tempestades de verão. Quero me sentir remexer, ter o medo de cair, e não mais pensar que é apenas uma conseqüência do desgaste. Eu quero ter que lutar, mas não por alguém, sim por mim.

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